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sábado, 28 de maio de 2011

Lembranças da calçada e da cozinha

Sempre moramos na rua principal, em frete a praça e a igreja, e a calçada foi algo freqüênte no dia-a-dia da família. Não uma calçada qualquer, mas um espaço social privilegiado, pois na calçada aconteciam as mais agradáveis e expontâneas conversas, deixando os assutos complicados para o reservado da cozinha ou do quarto.

Na calçada, João Alves recebia os amigos e parentes, aconselhava os filhos, abençoava os afilhados, festejava as vitórias... Era ali mesmo que ocorriam os natais, os réveillons, as noites de festas juninas, os acontecimentos cívicos, políticos e religiosos.

A família sempre junta, vendo e participando de comícios, desfiles, procissões, shows, disputas esportivas e tudo o que ocorria no centro da cidade. A Nau Catarineta, as bandas de músicas, os discursos, as caminhadas, os carnavais, os ébrios, os sóbrios, a feira e os feriados.

Quem passeou pelo centro da cidade deve ter ouvido o bom dia, boa tarde e boa noite de João Alves, majestosamente sentado em uma cadeira simples. Pobres e ricos passavam por ali. Uns só queriam uma moeda para ir embora, outros pagariam para não sair. Havia uma palavra de conforto ou a franqueza simples para quem quizesse ouvir.

Maria Antônia Fagundes certa vez disse que era na cozinha de João Alves que o povo de Canguaretama matava a fome. Isso foi um exagero, mas com o mais sincero fundo de verdade. Ela não queria desmerecer ninguém, mas sabia da mesa farta que acolhia qualquer um que entrasse na casa.

Quantos problemas não foram resolvidos naquela mesa, sem contar as barrigas saciadas. Muitas dívidas foram pagas com poucas palavras. As diferenças abrandadas com olhares de generosidade, num acordo sem assinatura nem cartório...

Não era fácil nem difícil, era natural. Aquela mesa era um tribunal de apelação dos desvalidos, uma ouvidoria geral dos mais fracos, a última instância dos desafortunados. Sem um acordo naquela mesa, só restava a incerteza ou um golpe de sorte, pois na casa de João Alves era onde tudo se resolvia.

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