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sábado, 31 de dezembro de 2011

10 passos para um 2012 bem mais feliz!

  1. Aceite-se!
    Seja feliz consigo mesmo;
  2. Viva o presente!
    Você deve parar de viver apenas nos projetos futuros e pensar que só lá na frente vai ser feliz de verdade, ou então, ficar vivendo de passado “lá sim fui feliz”… besteira, precisa ser feliz AGORA;
  3. Plante o bem!
    Cultive tudo que já recebeu de bom e compartilhe com pessoas queridas;
  4. Descarte o negativismo!
    Não precisamos carregar: ódio, inveja, rancor e tristeza e sim aprender com eles e transformar tudo isso em coisa boa. Deixe de reclamar de tudo, afinal, reclamar não adianta e a solução é muito mais rápida quando se tem calma;
  5. Cuide da saúde!
    O que somos nós sem saúde física e mental? Por isso, cuide da sua! Não abuse de álcool, não use drogas, alimente-se de comidas saudáveis, sorria mais, culpe-se menos, cuide da beleza e do lugar onde vive;
  6. Não desista dos seus sonhos!
    Se você não acreditar naquilo que você é capaz de fazer; quem vai acreditar? Dizer que existe uma idade certa, tempo certo, local certo é bobagem. Pode ser que enfrente dificuldades, mas se você realmente acredita que pode realizá-lo, não perca tempo: vá e faça!
  7. Sempre é hora de aprender!
    Não importa idade, sexo, cor ou poder aquisitivo. Toda hora é hora de aprender algo novo ou, quem sabe, ensinar!
  8. Ame de verdade! (Acredite no amor)
     Amar de verdade é dar-se sem medo, é dar sem esperar algo em troca. Ame-se, ame seus familiares, amigos, a natureza os animais.  Amar supõe evoluir todos os dias, conhecer o outro cada vez melhor, construir com ele um lugar no mundo em que as pessoas, ao entrar, sentirão que ali existe vida, carinho sincero, vontade de acertar. Nos momentos de alegria e êxtase, compartilhar essa alegria com quem você escolheu para estar ao seu lado, abrindo seu coração sem reservas é amar de verdade. Há quem diga que que nascemos para amar e ser amados, e que nossa felicidade consiste em realizar essa missão.
  9. Trabalhe! (Planeje-se)
    O que somos nós sem objetivo na vida? Nada! Por isso, planeje-se, escreva num papel seus objetivos para o próximo ano e trabalhe para que suas metas saiam do papel. Xô preguiça!
  10. Agradeça todos os dias!
    Independente de religião, agradeça a Deus e a natureza tudo de bom que possuis em sua vida, tudo que aprendeu até hoje. Peça luz em seu caminho e proteção… um pouquinho de coragem também ajuda (rs).
Enfim pessoal, essas são algumas dicas de como viver mais feliz. O que realmente temos que entender é que ser feliz só depende de nós mesmos!

“Não é a força, mas a constância dos bons sentimentos que conduz os homens à felicidade.” (Friedrich Nietzsche)

“A revolução se faz através do homem, mas o homem tem de forjar, dia a dia, o seu espírito revolucionário.” (Che Ghevara)

Feliz 2012 à todos!!!

FONTE: http://elamundo.wordpress.com/tag/feliz-2012/

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Família participa de filme em Cunhaú

Membros da Família Galvão participaram das gravações do fime "Nova Amisterdã, Terra do Sol banhada de sangue". Essa já é a 13ª geração da família depois dos episódios retrados no fime. A Família galvão chegou ao Rio Grande do Norte com Francisco Lopes Galvão, que veio de Goiana-PE, para Goianinha-RN. Francisco Galvão, Dimitri Galvão, João Victor Galvão e Breno Galvão tiveram a oportunidade de contracenar com atores que representam personagens como João Lostal Navarro e Joris Garstman, que são personagens históricos da época e constitui-se como troncos da família no Rio Grande do Norte.
Um dos personagens do filme é Joris Garstman van Werwe que foi um militar neerlandês a serviço da Companhia Neerlandesa das Índias Ocidentais (WIC) e que participou da segunda das Invasões holandesas do Brasil, durante todo o conflito (1630-1654).
Na fase inicial, da invasão a Olinda e Recife, participou como capitão em várias missões na região. A partir de 1634 destacou-se como comandante do Forte dos Reis Magos (denominado como Castelo Ceulen ou Keulen pelos neerlandeses). Em 1637 deixou o comando do Rio Grande para atuar na conquista da Capitania do Ceará. Nesse mesmo ano, em sociedade com o Conselheiro Político Baltasar Wijntges, adquiriu, por 60.000 florins, o Engenho Cunhaú, no Rio Grande. Foi ainda o mandante do assassinato de Jacob Rabe, que teria matado seu sogro, nos massacres ocorridos no Rio Grande em 1645.
Joris Garstman casou com a filha de João Lostal Navarro e suas filhas casaram com a primeira geração dos Galvão no Rio Grande do Norte.

domingo, 13 de novembro de 2011

Os filhos do Coronel Cipriano Bezerra Galvão

Cipriano Bezerra Galvão casado com Isabel Cândida de Jesus, são os troncos de inúmeras famílias do Seridó Potiguar. Destacando-se entre os seus descendentes as famílias Bezerra de Araújo Galvão, Salustino e Medeiros.

F.01 Cel. Silvino Bezerra de Araújo Galvão *Acarí/RN 21/06/1836 +Acarí/RN 10/03/1921. Casado aos 07-08-1856 na fazenda Ingá com D. Maria Febronia de Araújo Galvão *25-06-1838 +25-11-1908, filha de Cipriano Lopes Galvão e Ana Marcolina de Jesus. Casou-se em segundas núpcias com Vigolvina, natural de Martins/RN da qual separou-se.;

F.02 Manoel Bezerra de Araújo Galvão *01-01-1838 +15-04-1922 casado aos 01-06-1858, na fazenda Sobradinho com Ana Maria de Jesus *31-07-1838, filha de Antônio Pires de Albuquerque Galvão e Guilhermina Francisca de Medeiros;

F.03 Francisca Bezerra de Jesus *03-11-1839 +1861 casada na fazenda Ingá aos 26-11-1855 com Bernardino Pires de Albuquerque Galvão +09-06-1901, filho de Antônio Pires de Albuquerque Galvão e Guilhermina Francisca de Medeiros (Recife);

F.04 Josefa Bezerra de Jesus *04-02-1841 +03-01-1916 casada aos 26-11-1855, na fazenda Ingá com Sérvulo Pires de Albuquerque Galvão +12-10-1918, filho de Antônio Pires de Albuquerque Galvão e Guilhermina Francisca de Medeiros (Recife);

F.05 Cel. José Bezerra de Araújo Galvão *Acarí/RN 18/12/1844 +Currais Novos/RN 05/02/1926. Casado em 09/01/1872, na fazenda Bulhão, com Antônia Bertina de Araújo +Currais Novos/RN 03/12/1893, filha do coronel João Damasceno Pereira e Tereza Alexandrina de Jesus. Filhos;

F.06 Isabel Cândida da Conceição *28-09-1845 +21-05-1922 casada em 14-01-1862 na fazenda Ingá com Bernardino Pires de Albuquerque Galvão +09-01-1901, filho de Antônio Pires de Albuquerque Galvão e Guilhermina Francisca de Medeiros (Recife);

F.07 Maria Rosalina de Araújo *1846 +? Casada em 1872, com Dr. Manoel José Fernandes *11-12-1834 +28-03-1907, filho de Cosme Damião Fernandes e Isabel Maria de Araújo. Era viúvo de Cristiana Cristina Católica;

F.08 João Bezerra de Araújo *04-03-1848 +criançaF.09 João Bezerra de Araújo Galvão *12-07-1849 +? Casado na fazenda acauã aos 09-11-1869 com Maria Senhorinha de Jesus *01-08-1851 +?, filha de Joaquim de Araújo Pereira e Apolônia Francelina de Jesus. Casou-se em segundas núpcias com Porfiaria Ângela de Araújo *16-09-1862 +?, filha de Joaquim de Araújo Pereira e Apolônia Francelina de Jesus;

F.10 Tereza Maria Bezerra de Araújo (Tetê) *07-08-1850 +23-06-1941 c.c Cel. Ezequiel de Araújo Fernandes *10-04-1843 +24-04-1904, filho de Cosme Damião Fernandes e Isabel Maria de Araújo. Era viúvo de Josefina Ernestina de Araújo;

F.11 Porfiria Augusta Bezerra *1854 +1883 c.c Zabulon Jovem Herói da Trindade, filho de Luiz José de Almeida Filho e Sinhá Trindade;

F.12 Cipriano Bezerra Galvão Santa Rosa *27-10-1857 +14-02-1947 c.c Isabel Teodomira Bezerra de Araújo (Sinhá) *13-11-1859 +15-04-1899 (s.s.), filha de Silvino Bezerra de Araújo Galvão e Maria Febrônia de Araújo Galvão. Casou-se em segundas núpcias aos 16-02-1901, na fazenda Pedreira com Mariana Iluminata da Nóbrega *01-12-1877 +31-12-1917, filha de Janúncio Salustiano da Nóbrega e Iluminata Teodora da Nóbrega;

F.13 Antônia Maria Bezerra de Araújo *01-07-1870 +23-08-1880 casou em 1870 com Laurentino Bezerra de Araújo Galvão *25-02-1855 +12-11-1901, filho de Laurentino Bezerra de Medeiros Galvão e Tereza Urçulina de Jesus (s.s.).
 
FONTE: http://www.historiaegenealogia.com/2009/11/os-filhos-do-cel-cipriano-bezerra.html

O Coronel Cipriano Lopes Galvão, da Ribeira do Seridó

O Coronel Cipriano Lopes Galvão, da Ribeira do Seridó
João Felipe da Trindade (jfhipotenusa@gmail.com)
Professor da UFRN e membro do IHGRN

O povo seridoense tem um amor muito grande por sua região. Tudo isso advém, acredito, do fato de muitos dos seus filhos terem preservado a História da Seridó através da Genealogia, o que originou autoestima e identidade para aquele povo. Aproveitando a festa de Santa Anna, vamos transcrever para cá uma carta patente de Coronel concedida a um de seus habitantes ilustres, o Coronel Cipriano Lopes Galvão. Além disso, daremos algumas informações de outro ilustre morador daquela Ribeira, Alexandre Rodrigues da Cruz.
Pedro de Albuquerque de Mello, Capitão Mor da Capitania do Rio Grande e Governador da Fortaleza da Barra desta Cidade do Natal, por sua Majestade Fidelíssima que Deus Guarde, etc. Faço saber aos que esta minha carta virem que porquanto se acha vaga o posto de Coronel do Regimento de Cavalaria da Ribeira do Seridó, por impedimento de Alexandre Rodrigues da Cruz que o servia, por ele dar ar na boca e na garganta… se acha em perigo evidente da vida na Praça de Pernambuco e desenganado dos médicos e cirurgiões e ser conveniente prover pessoa de qualidade, merecimentos e serviços que possa governar naquela Ribeira do Seridó, por ser um Sertão de muita gente e distante desta Cidade sessenta léguas pouco mais ou menos, pedi informações aos oficiais da Câmara desta Cidade conforme as ordens de Sua Majestade os quais satisfizeram nomeando três homens entre os quais nomearam Sipriano Lopes Galvam em primeiro lugar; e por me constar ter servido a Sua Majestade que Deus Guarde, tanto de Capitão de Cavalos e de Sargento Mor da Ordenanças, tudo por espaço de anos com bom procedimento e muito zelo do Real Serviço, como por ser um dos homens principais e nobres desta Capitania e de conhecida nobreza e muito afazendado: hei por bem de o eleger e nomear como por esta o faço ao dito Sipriano Lopes Galvam, no posto de Coronel da Cavalaria do Regimento da Ribeira do Seridó que vagou por impedimento de Alexandre Rodrigues da Cruz, que o servia e em virtude das ordens de Sua Majestade, de vinte e dois de Dezembro de mil setecentos e quinze, com o que posto não haverá soldo algum da Real Fazenda, mas gozará de todas as honras, graças, privilégios, liberdade, e isenções que em razão do dito posto lhe tocarem; do qual posto o hei por apossado e ordeno a todos os seus oficiais subalternos de seu Regimento o conheçam por seu Coronel e como tal o honrem e obedeçam, cumpram e guardem suas ordens de palavra e por escrito como devem e são obrigados. E por firmeza de tudo lhe mandei fazer a presente Patente por mim assinada e selada com o sinete de minhas armas que se registrará nos livros da Secretaria deste Governo e nas mais a que tocar. Dada e passada nesta Cidade do Natal, Capitania do Rio Grande do Norte, aos três de Novembro do ano do nascimento no Nosso Senhor Jesus Cristo, de mil setecentos e cinquenta e sete. E eu, Manoel Pinto de Crasto, por ausência do Secretário a fiz//Pedro de Albuquerque Mello// e tinha o selo. Carta Patente pela qual V. Sª foi servido prover a Sipriano Lopes Galvam no posto de Coronel da Ribeira do Seridó, por impedimento de Alexandre Rodrigues da Cruz que o servia, como acima se declara e pelos respeitos acima declarados//para V. Sª ver// e não se continha mais em dita Carta Patente que eu, Manoel Pinto de Crasto, em ausência do Secretário aqui trasladei bem e fielmente como nela se continha.
Copiado em 2 de Março de 1922. O Copista Petronillo Edson Pinheiro Joffily.
Alexandre Rodrigues da Cruz, acima citado, recebeu uma Carta de data e sesmaria, em 23 de Dezembro de 1743. Terras entre as Ilhargas de Acauã e entre as Ilhargas do Quinqué e testadas do Trapiá e o sítio do Acari. Ribeira do Seridó.
Alexandre Rodrigues da Cruz, que ocupava o cargo de Coronel, era casado, como já visto em artigo anterior, com Vicência Lins de Vasconcelos. Eram filhas do casal, acima, minhas hexavós Anna Lins de Vasconcelos e Tereza Lins de Vasconcelos, casadas respectivamente com Antonio Garcia de Sá Barroso e o português Francisco Cardoso dos Santos.

FONTE: http://trindade.blog.digi.com.br/2010/07/27/o-coronel-cipriano-lopes-galvao-da-ribeira-do-serido/

José Bezerra de Araújo Galvão

O patriarca do Seridó


Coronel José Bezerra de Araújo Galvão. (Foto Acervo: Anderson Tavares)



Estátua do Cel. José Bezerra em Currais Novos/RN, inaugurado em 16-11-1953. Foto: Anderson Tavares
Busto do Cel. José Bezerra, em Currais Novos/RN inaugurado em 05-02-1927. Foto: Anderson Tavares



Nunca um coronel no Estado do Rio Grande do Norte teve mais poder e prestígio do que José Bezerra de Araújo Galvão, de Currais Novos. Um poder imposto pela palavra sincera e conselheira; um prestígio emanado da amizade que dispensava a tantos quantos lhe recorressem em fases difíceis e, por isso mesmo, José Bezerra exerceu o seu poder dentro de um coronelismo paternalista, um coronelismo protetor.
O Coronel José Bezerra ou popularmente coronel Zé Bezerra d’Aba da Serra, já sublimou-se em personagem mítico na historiografia potiguar. Não se pode discorrer sobre a fase histórica conhecida por “coronelismo” sem mencionar-lhe a figura e os feitos.
No Seridó potiguar foi um autentico senhor feudal em todos os sentidos. De Currais Novos onde fixou sua chefia foi guia de toda uma população. Para se ter uma noção da representatividade de José Bezerra, recorreremos a afirmação de Veríssimo de Melo em “Patriarcas e Carreiros”: “(...) O seu nome soava como uma nota de clarim, vibrando nas quebradas das serras e dos vales, como um defensor da honra alheia, dos limites da propriedade privada, da moça ofendida, do pobre que apelava para a sua proteção, defensor dos hábitos e costumes do seu povo, transformados por sedimentação de vários séculos em norma de vida ou código de lei”.
Nascido na cidade de Acarí, na histórica fazenda Ingá, no dia 18 de dezembro de 1843. Seu pai foi o capitão Cipriano Bezerra Galvão (*1809 +1899), descendente direto dos povoadores do Seridó, entre os quais o afamado capitão-mor Galvão, fundador da cidade de Currais Novos. Sua mãe a senhora Tereza Maria de Jesus (*1819 +1873), pertencente igualmente a linhagem não menos ilustre dos desbravadores do sertão Norte-riograndense. Possuiu vários irmãos, todos dignos e honrados nas comunidades onde se instalaram. Destaque para o Cel. Silvino Bezerra de Araújo Galvão, chefe da cidade de Acarí e vice-governador do Rio Grande do Norte na chapa de Pedro Velho de Albuquerque Maranhão.
O jovem José Bezerra, de estatura alta, forte, de constituição robusta, entregou-se, em moço, ao esporte favorito dos rapazes ricos e de boa família da época: - a equitação, as vaquejadas, as lutas perigosas e emocionantes com os barbatões bravios criados em vastos campos abertos e nas caatingas cerradas. Todos os seus ancestrais foram fiéis ao signo da terra e da criação.Homem do campo, José Bezerra possuiu as mais belas e importantes propriedades da época no Seridó. Nascido na fazenda Ingá morou em seguida na fazenda Bulhão, transferindo-se em 1880 para a Aba da Serra seu quartel general de toda a vida. Era o seu feudo. O território sagrado de sua ação benfazeja.
Senhor de terras, criador e liderança política acatada José Bezerra foi ainda muito moço apontado pelo presidente da província do Rio Grande do Norte para ser membro da Guarda Nacional, sendo a sua primeira patente naquela organização a de capitão da 4ª Companhia do Batalhão nº. 17 da Guarda Nacional em Acari, em 1869. Em 1877, foi convidado para ser delegado em Acarí onde desenvolveu uma ação pronta, enérgica e tão justa, que apesar da forte repressão exercida contra os delinquentes de várias espécies, não criou inimigos. No ano de 1886 foi nomeado coronel comandante superior da Guarda Nacional da Comarca do Jardim, em decreto assinado por sua majestade imperial Dom Pedro II. Em 1893 foi reformado neste posto pelo decreto do então vice-presidente da República marechal Floriano Peixoto.
Convém destacar que durante sua vida, o município de Currais Novos nunca foi policiado por força governamental. Os seus homens de confiança eram os guardiões da segurança da cidade, do município e da redondeza. Vem daí, em grande parte, o seu prestigio, a sua força moral perante o povo bom, honesto e simples do sertão.
Toda essa situação, toda essa liderança exercida com moderação e prudência deu margem para que em Currais Novos durante muito tempo a máxima “O estado sou eu”. O município era ele. A lei era ele. O Juiz, o Delegado, o padre era ele. Tudo isso dentro do decoro, da prudência e da polidez que o seu nome de homem superior, inteligente, experimentado, abrangia sem dizer que estava mandando.
Foi um católico adiantado no meio em que vivia, bem à sua maneira freqüentando as missas todos os domingos, contudo, sem se confessar. Afirmava que Deus quando deu inteligência ao homem, foi para ele se dirigir na vida. Reconhecia e não se cansava de dizer que a existência de Deus era um fato inegável, constituindo, além disso, uma necessidade na vida do homem.
Desde os tempos do Império, quando militava nas fileiras do Partido Liberal, fazendo política em Acarí com o mano Silvino, que o Cel. José Bezerra por todas as suas qualidades paternais e com a sabedoria de fazer política ouvindo os seus companheiros e dividindo com estes as responsabilidades dos cargos que viria a exercer que desmembrado o município de Currais Novos do de Acarí que Zé Bezerra passou a chefiá-lo, por exigência de seus amigos, e agiu com tanta inteligência e liberalismo que a população unânime cerrou fileiras em torno de sua pessoa.
Na cidade de Currais Novos foi Presidente da Intendência por dois mandatos 04-04-1892 a 02-10-1892 e de 01-01-1915 a 30-12-1926, ocasião na qual criou a primeira escola do Totoró. Estimulou a construção da estrada de automóveis do Seridó, convidando seus familiares e amigos para adquirir ações da sociedade anônima que estava a frente do empreendimento. Posteriormente, observando não serem cumpridas cláusulas contratuais retirou-se com seus liderados da sociedade.
Ainda sobre a ação de José Bezerra na política da sua terra se faz mister citarmos as observações de Veríssimo de Melo: Delegado de polícia em Acari e Currais Novos, delegado escolar e intendente (Prefeito) de Currais Novos, aceitou-os tendo em vista o desejo de trabalhar pelo progresso de terra e do povo, uma vez que esses cargos nada rendiam e só lhe traziam aborrecimentos e desgostos.
Debrucemo-nos agora sobre o patriarca da Aba da Serra. Sobre o chefe do clã cujas ramas espalharam-se pelo mundo, carregando o sangue de um home fiel às suas raízes. O coronel José Bezerra casou em 09-01-1872 com a prima Antônia Bertina de Jesus, filha do coronel João Damascenos Pereira , e com a qual constituiu uma família composta de 13 filhos:
F.01 Absalão de Araújo Galvão *1873 +1894 (surdo-mudo), faleceu solteiro;
F.02 Salomão *1874;
F.03 Auta Bezerra de Araújo *1875 +1934 casada com Cel. Moisés de Oliveira Galvão *1869 +1927, filho de Francisco de Oliveira Galvão e Francisca Alexandrina de Oliveira;
F.04 Francisca Xavier de Araújo *1876 +1929, casada com Major Ladislau de Vasconcelos Galvão *1874 +1943, filho de Cipriano Lopes de Vasconcelos Galvão e Maria Marcionila de Vasconcelos;
F.05 Isabel Bezerra de Araújo *1878 +1955 casada com Francisco Braz de Albuquerque Galvão *1873 +1938, filho de Sérvulo Pires de Albuquerque Galvão e Josefa Bezerra de Jesus;
F.06 Major Napoleão Bezerra de Araújo Galvão *1881 +1953 casado com Veneranda Predicanda Bezerra de Melo *1886 +1983, filha de Luis Gomes de Mello Lula e Maria Idalina da Rocha;F.09 falecido criança;
F.07 José Bezerra de Araújo Galvão Filho (Zeca) *1884 +1939 (surdo-mudo), solteiro;
F.08 Tereza Bertina de Araújo (Tetê) *1885 +1976 casada com Thomaz Salustino Gomes de Mello *1880 +1963, filho do Cel. Manoel Salustino Gomes de Macedo e Ananília Regina de Araújo;
F.09 Jeremias Bezerra de Araújo Galvão *1887 +1940 casado com Tereza Augusta Bezerra de Araújo *1890 +1937, filha de Félix Pereira de Araújo e Maria Getúlia Bezerra de Araújo Galvão. E em segundas núpcias com Maria Salomé de Vasconcelos *1890 +1970;
F.10 Antônio Bezerra de Araújo *1888 +1943 casado com Rita Alzira de Araújo *1887 +1935, filha de Manoel Salustino Gomes de Macedo e Ananília Regina de Araújo. E em segundas núpcias com Tereza de França Bezerra *1911 +1980;
F.11 Maria *1889 +1890;
F.12 Anunciada *1890, falecida criança;
F.13 Lidia *1892, falecida em tenra idade.
Essa família se desdobrou em inúmeros descendentes, muitos dos quais atuantes no cenário político do Rio Grande do Norte como: Quintino Galvão (neto), ex-prefeito de Currais Novos; José Braz (neto), ex-prefeito e líder político de Acari; Silvio Bezerra de Melo (neto), ex-prefeito de Currais Novos; Zé Lins (trineto) ex-deputado estadual e ex-prefeito de Currais Novos; Fábio Faria (trineto), deputado federal pelo RN, José Bezerra de Araújo (neto), senador pelo RN em 1965 e ex-prefeito de Currais Novos; José Bezerra de Araújo Júnior (bisneto), senador do RN. Vale destacar os sobrinhos que atuaram na política do RN ainda em vida de José Bezerra – Juvenal Lamartine e José Augusto Bezerra.
O intelectual escritor José Bezerra Gomes também era neto do velho patriarca sertanejo. Enfim, uma estirpe com relevantes serviços prestados ao RN e em especial a região do Seridó.
Por fim, os últimos anos do coronel José Bezerra de Araújo Galvão foram mansos e calmos. Idoso, atravessava as ruas de Currais Novos, alto, firme, barbas longas e alvas. Vestindo o tradicional palitó de alpaca por sobre calça de brim branco, firmando-se no seu cajado encastoado em prata maciça. Faleceu às 16 horas do dia 05 de fevereiro de 1926. Recordando o personagem José Bezerra, assim descreveu Assis Chateaubriand:
“Era divinamente telúrico. Exercia caciquismo naturalmente, como quem bebia água ou tomava pinga. Lealdade, fervor das coisas públicas, firmeza de convicções, eram os sucos das suas reservas. Imperava soberano, na latitude do Seridó, o Matusalém riograndense do Norte.

Foi um autêntico patriarca. Era o tipo acabado do coronel sertanejo. O coronel José Bezerra, como José Bernardo e Silvino Bezerra, pertenciam a essa privilegiada aristocracia rural, dos coronéis seridoenses, a cuja ação social e política o Rio Grande do Norte tanto deve, porque, na verdade, todos eles foram fatores importantes de equilíbrio, disciplina e estabilidade na paisagem rude e livre da vida sertaneja.
Dele se podia dizer o que de um outro chefe do Seridó disse um historiador de nossa terra: o velho José Bezerra, de espírito lépido e frase pronta, granito das serras, ouro das minas, bondade dos invernos, doçura das noites, é o príncipe da mais legitima e linda de todas as dinastias do mundo, a do trabalho, da dignidade e do coração”.

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

A mulher mais rica de Portugal

A vida misteriosa da mulher mais rica do país

PERFIL. A VIDA DE MARIA DO CARMO MONIZ GALVÃO

A MILIONÁRIA MISTERIOSA
Foge dos fotógrafos, tem "horror" a que falem dela, evita festas e não dá entrevistas. Gosta de viajar, de guiar carros desportivos e de antiguidades. Aos 74 anos é a mulher mais rica do País.
Por Helena Cristina Coelho
Assim que desembarca no aeroporto de Genebra, na Suíça, depois de um cómodo voo em classe executiva, como é habitual, Maria do Carmo Moniz Galvão Espírito Santo Silva pode ter à espera um automóvel e um motorista para a levar a Lausanne, onde tem casa, e a todos os outros locais que quiser. É uma gentileza que o grupo Espírito Santo, do qual é a maior accionista individual, com uma participação de 16%, lhe oferece. Mas Maria do Carmo dispensa-a. Ela própria trata de alugar um carro que depois conduz durante os dias em que está no país. Se alguém lhe pergunta o motivo para recusar a mordomia, responde sem rodeios: "Não preciso."
A mulher mais rica de Portugal adora conduzir e os modelos desportivos sempre foram os seus favoritos, sobretudo os Alfa Romeo – uma paixão que herdou do pai, Fernando Moniz Galvão (fundador das empresas de retalho automóvel Mocar e Santomar), que também era fascinado pela marca italiana. Nos últimos tempos, contudo, "trocou os italianos pelos alemães", conta um amigo da família: passou a conduzir BMW e, por vezes, também Mercedes. "Ela é muito independente e tira verdadeiro prazer da condução, da sensação de controlar a máquina", conta a mesma fonte.
Esta paixão pelos automóveis não se apagou nem mesmo depois de sofrer um acidente numa auto-estrada suíça, há cerca de dois anos, revela uma amiga dos Espírito Santo. Os danos no carro acabaram por ser ligeiros e o incidente valeu-lhe apenas um susto.
AOS 74 ANOS, MARIA DO CARMO Alzira Moniz Galvão Espírito Santo Silva é dona da sétima maior fortuna de Portugal (que atinge os 768,1 milhões de euros, segundo o ranking da revista Exame e pertence a uma das famílias mais poderosas do País. No entanto, mantém uma vida misteriosa, sem exibicionismos e longe da imprensa. Nunca deu entrevistas, não se deixa fotografar pela imprensa e so comparece em ocasiões em que pode permanecer discreta.
As assembleias gerais ou as grandes reuniões do Grupo Espírito Santo (GES) são alguns desses eventos. Em Junho do ano passado, no encontro anual de investidores, em Lausanne, Maria do Carmo chegou atrasada. Sendo uma das accionistas mais importantes, justificava-se que ocupasse um dos lugares da frente.
A sua preocupação, contudo, foi encontrar uma cadeira nas últimas filas onde pudesse assistir às apresentações do filho, Manuel Fernando Espírito Santo, e do primo, Ricardo Salgado, sem dar nas vistas. No fim do encontro, porém, quando se encaminhavam para o almoço, muitos dos presentes reconheceram Maria do Carmo Moniz Galvão e dirigiram-se a ela para a cumprimentar.
A família e os amigos conhecem esta sua faceta reservada e fazem tudo para a respeitar. "Ela é assim mesmo não revela muito da sua vida. Pode parecer distante ou arrogante, mas não é nada disso", conta uma amiga de muitos anos. Um membro da família Espírito Santo garante mesmo que Maria do Carmo "não fala de si e tem horror a que se fale dela".
O seu círculo de amigos inclui milionários e membros de casas reais, mas ela evita a todo o custo uma vida social activa. A excepção são as idas ao teatro e ao cinema, que aprecia bastante, e o convívio com a família, a cujos encontros, festas de casamento ou de aniversário faz questão de comparecer. Mesmo nesse ambiente mais informal, é pouco exuberante.
Ninita, o diminutivo pelo qual a tratam os parentes e amigos mais íntimos, "é tímida, não fala muito", comenta uma fonte próxima. "Também não é pessoa de contar grandes histórias ou de ter sentido de humor, mas e simpática", reforça. Destaca-se sobretudo pelo porte elegante e pela roupa clássica cuja marca ou estilista raramente se conseguem perceber. Sempre gostou de se vestir bem. Quando se casou, em 1954, levou um modelo moderno, muito semelhante ao que Grace Kelly usaria quase dois anos depois no casamento com o príncipe Rainier do Mónaco.
TODO O PATRIMÓNIO que Maria do Carmo tem hoje foi acumulado por herança. Filha única, deve uma boa parte da fortuna ao pai, Fernando Moniz Galvão, que foi um importante accionista do Banco Espírito Santo e Comercial de Lisboa (BESCL) até à sua nacionalização, em 1975.
Dos investimentos, além de propriedades imobiliárias, sobretudo em Lisboa, faziam ainda parte duas empresas do sector automóvel: a Mocar (anagrama de Carmo), fundada em 1946 como importadora exclusiva da Alfa Romeo e da Peugeot para Portugal, e a Santomar, representante da Honda a partir de 1967.
Hoje esse império automóvel está reunido na Santogal, holding controlada a 100% por Maria do Carmo Moniz Galvão, que factura mais de 450 milhões de euros por ano.
O grupo de retalho, que tem uma rede de stands em Portugal e em Madrid, representa 30 marcas automóveis, entre elas a Alfa Romeo, Audi, BMW, Ferrari, Honda, Jaguar, Land Rover, Maserati, Mercedes, Mitsubishi e Peugeot ou as motas Honda. Tem ainda uma marca própria de venda de carros usados, a Nacional Car.
Maria do Carmo recebeu ainda a herança de uma tia, Maria Cristina Moniz Galvão, de quem era a única sobrinha. Mas o seu património saiu bastante reforçado com o casamento, em 1954, com o primo em segundo grau Manuel Ricardo Espírito Santo Silva, que foi presidente do BESCL de 1973 até à sua nacionalização, passados dois anos.
Foi ele, juntamente com outros banqueiros da família, quem esteve, mais tarde, na origem do grupo Espírito Santo, que agrupa as duas grandes áreas de negócio: a Espírito Santo Financial Group, liderada por Ricardo Salgado e responsável pela actividade financeira do grupo, e a Espírito Santo Resources (ESR), que dirige os negócios não financeiros da família.
Esta ultima empresa, da qual Manuel Fernando Espírito Santo, filhho de Maria do Carmo, é presidente, factura mais de mil milhões de euros por ano e está entre os dez maiores grupos do País. Os seus interesses estendem-se a vários sectores (turismo, imobiliário, agricultura e pecuária) e países (da Europa ao Brasil, passando pelo Paraguai, Angola, África do Sul ou Estados Unidos).
Maria do Carmo nunca se quis envolver directamente na gestão das empresas. Primeiro entregou essa responsabilidade ao marido e, após a morte de Manuel Ricardo Espírito Santo Silva, em 1991, delegou-a aos filhos Manuel Fernando e Fernando Manuel, este último à frente da Santogal.
AMBOS LHE DÃO CONTA da evolução dos negócios e das decisões mais importantes de modo informal, nos encontros familiares ou sempre que falam por telefone. Fernando Martorell, administrador-delegado da ESR e amigo da família, é outra das pessoas em quem Maria do Carmo confia para saber resultados e estratégias do grupo e com quem mantém um contacto regular.
As outras duas filhas estão afastadas dos negócios, cumprindo o que é uma tradição entre os Espírito Santo: apenas os homens cuidam do dinheiro. A mais velha, Mafalda, 52 anos, é casada pela segunda vez e tem três filhas. Madalena, dois anos mais nova, vai no terceiro casamento e tem quatro filhos.
Manuel Fernando, com 49 anos, é o mais velho dos dois filhos. Viveu 20 anos em Londres, onde conheceu a actual mulher, a sueca Rosina Ekman, que por influência do marido deixou a religião protestante para se converter ao catolicismo. O gestor só regressou a Portugal, em 1996, para tomar conta de uma parte importante dos activos do grupo familiar.
É um executivo reservado, tal como o irmão mais novo, Fernando Manuel, 44 anos, responsável pela condução da Santogal e um apaixonado por carros. Fora dos negócios, dedica-se às corridas GT, ao volante de um Ferrari F430 negro, juntamente com o sobrinho, Ricardo Bravo, com quem tem somado vários triunfos.
A atitude reservada dos filhos só é superada pela da mãe, que há muitos anos optou por viver parte do tempo fora de Portugal. Quando não está numa das suas moradias no Estoril ou na Quinta do Peru, em Azeitão, onde costuma passar o Natal em família, o mais provável e encontrar Maria do Carmo Moniz Galvão nos arredores de Lausanne junto ao lago Genebra, onde mantém uma residência fixa. A zona é cosmopolita e, nos últimos tempos, tornou-se num pólo de atracção de milionários que investem fortunas em mansões luxuosas.
SEMPRE PREFERIU OS AMBIENTES de montanha aos de praia. Gosta de visitar Londres de vez em quando e Miami, pelo menos, uma vez por ano. Quando vai a Inglaterra, fica num hotel. A família tinha uma casa em Kensington Court Gardens, um bairro de estilo vitoriano junto ao palácio de Kensington, mas vendeu-a pouco depois da morte de Manuel Ricardo Espírito Santo Silva.
Quando sabem que está em Portugal, os amigos mais próximos desafiam-na para festas e jantares. Mas Maria do Carmo Moniz Galvão não gosta de grandes grupos nem de ambientes confusos. Prefere encontros com pouca gente: duas ou três pessoas é o ideal, os petits comités, como lhe chama.
Escolhe criteriosamente os seus convívios sociais e é raro fazer convites. "Se eu lhe ligar para almoçar, vem toda contente, mas é incapaz de tomar a iniciativa de convidar", confessa uma amiga de muitos anos. Nos últimos meses, a doença da mãe, Maria Carolina Sommer Alzina, com 97 anos, tem sido o principal motivo das suas estadias no Estoril. E, também por isso, passa temporadas cada vez maiores em Portugal.
NÃO SE CONHECEM grandes extravagâncias a Maria do Carmo Moniz Galvão, excepto as viagens, os carros e as antiguidades. "Gosta sobretudo de porcelanas e móveis, mas também de pintura. E sabe escolher as peças", que compra sempre em antiquários, conta uma amiga. A técnica para distinguir as genuínas das fraudes aprendeu-a com os pais, mas também com o marido, que comprava, "mais por gosto do que por investimento", segundo um amigo do casal. Ainda hoje, "gosta de viver rodeada de coisas bonitas", sejam móveis, porcelanas ou livros.
Maria do Carmo e Manuel Ricardo tinham ambos 21 anos quando se casaram, em 1954, juntando dois ramos dos Espírito Santo e formando a maior fortuna do clã. Maria do Carmo é a única descendente do primeiro casamento do fundador José Maria Espírito Santo Silva com Maria da Conceição (ver infografia), uma rapariga de 17 anos criada como órfã depois de ter sido deixada na roda, à porta da Santa Casa da Misericórdia, em Lisboa.
Tiveram uma filha, Maria Justina, que recebeu metade da fortuna do pai no dia do casamento com o médico Custódio Moniz Galvão. Desta união nasceram dois filhos – o único que deixou descendentes foi Fernando Moniz Galvão. A sua filha, Maria do Carmo, só teve uma irmã, Maria Carolina, que nasceu oito anos depois dela, mas que morreria nesse mesmo ano.
Representante da terceira geração da família, o filho mais velho de Manuel Espírito Santo, Manuel Ricardo, chegou a presidente do BESCL aos 40 anos, num momento especialmente difícil.
A era dourada da banca estava a chegar ao fim, a crise petrolífera minava todos os sectores de actividade e a economia mundial retraía-se.
A revolução de 25 de Abril de 1974 só agravou o cenário para os Espírito Santo e especialmente para Maria do Carmo Moniz Calvão: dois dias depois da morte do seu pai, o marido era preso.
No dia 11 de Março de 1975, Manuel Ricardo regressava ao banco depois do almoço quando o porteiro o avisou: aguardavam- -no na sala de administração, com ordens para o levar. O funcionário sugeriu-lhe que fugisse enquanto havia tempo. Mas Manuel Ricardo não recuou. "O meu lugar é ao pé dos meus colegas de administração", disse.
Seria detido instantes depois, juntamente com António Ricciardi, que se mantém na administração do Banco Espírito Santo, e José Roquette, que trocou a banca pelos próprios negócios, dos quais se destaca a Herdade do Esporão. Maria do Carmo, que já passava pequenas temporadas em Londres, estava em Lisboa nessa altura. A pedido do marido, mudou-se definitivamente para Inglaterra com os filhos.
Durante esse período, viveram num pequeno apartamento. Sem empregada doméstica, dividiram o trabalho em casa entre todos. Os filhos aprenderam a cozinhar, a lavar loiça, a tratar da roupa, a arrumar. Uma amiga da família lembra-se de os visitar nessa altura. Ao tocar à porta, Maria do Carmo "estava a limpar as carpetes. Quando chegou a Londres não quis ter empregada e ela própria fazia tudo. Sempre foi uma pessoa muito simples".
Manuel Ricardo só se mudou para Inglaterra quando deixou a prisão de Caxias, em Agosto de 1975, depois de um pedido especial de Giscard d’Estaing, Presidente francês e amigo da família, junto do Movimento das Forças Armadas (MFA).
Foram os tempos de maior aperto. As contas em Lisboa estavam congeladas, o banco tinha sido nacionalizado e os Espírito Santo estavam impedidos de desenvolver os seus negócios em Portugal. Apenas as empresas de Maria do Carmo (a Mocar e a Santomar) escaparam, por não estarem na alta finança nem na indústria, as áreas mais cobiçadas pelo Governo. Isso seria determinante para a herdeira garantir o fôlego financeiro da família nessa época.
Enquanto o País vivia o período revolucionário, os banqueiros Espírito Santo refaziam os seus interesses financeiros no estrangeiro. Ricardo Salgado e Mário Mosqueira do Amaral, amigo da família, desdobravam-se em contactos com várias famílias financeiras.
O nome Espírito Santo acabou por se revelar um activo essencial. Em 1978, numa reunião mundial de bancos em Boston, diante dos novos gestores públicos do BESCL, o presidente do Banco Mundial, Robert McNamara, sentou Manuel Ricardo Espírito Santo Silva à sua direita e apresentouo como o legítimo presidente do banco. A atitude foi vista como um apoio evidente.
NA MESMA ALTURA, o milionário norte-americano David Rockefeller, dono do Chase Manhattan Bank, abriu uma conta na sede, em Nova Iorque, em nome do marido de Maria do Carmo Moniz Galvão e disponibilizou-se para lhe conceder crédito sempre que necessário. Ainda hoje os Espírito Santo mantêm a amizade com os Rockefeller, um dos mais ricos e carismáticos clãs norte-americanos.
Sob a liderança de Manuel Ricardo, a família refez então os negócios no estrangeiro (Luxemburgo, Reino Unido, Brasil, França, Estados Unidos e Suíça), organizando o grupo Espírito Santo, em 1976.
Embora Maria do Carmo não se envolvesse directamente nos negócios, o banqueiro pedia-lhe muitas vezes opinião, especialmente sobre os parceiros de investimento, porque reconhecia na mulher "um sentido muito apurado de análise das pessoas", diz um amigo. Por outro lado, respeitava os negócios que a mulher herdara do pai como um património independente. Por isso, nunca os quis controlar – apenas os geria, a pedido dela.

Quando esteve preso, a gestão da Mocar e da Santomar foi entregue ao braço-direito de Manuel Ricardo, Miguel Jorge Horta e Costa, 5º barão de Santa Comba Dão e primo afastado do ex-presidente da Portugal Telecom. A confiança neste gestor era tal que chegou a passar-lhe uma procuração com poderes ilimitados. Durante esse período, era ele que reportava a Maria do Carmo sobre o andamento dos negócios.
QUANDO VOLTARAM a estar juntos, dividindo o tempo entre as casas de Lausanne e de Londres, Maria do Carmo convivia sem dificuldades com a agenda frenética do marido. Passavam grandes temporadas na Suíça, por causa dos negócios financeiros, mas as deslocações à capital britânica, para contactos e reuniões de trabalho, eram frequentes.
Londres tornou-se o local favorito do casal. "Maria do Carmo tinha-se adaptado tão bem à cidade, que preferia que o grupo se tivesse reestruturado em Inglaterra e não na Suíça", diz uma fonte próxima. Era lá que estavam alguns dos seus maiores amigos, como Isabel de Palmela. filha da duquesa de Palmela, de quem foi vizinha. Ainda hoje mantêm uma forte amizade.

Para Maria do Carmo, a ligação a Londres não era nova. Os seus pais, Fernando Moniz Galvão e Maria Carolina Sommer Alzina, iam regularmente a Inglaterra, onde tinham amigos, para participarem em caçadas à raposa. Também era comum comprarem lá cães e cavalos de raça, que levavam para as cavalariças das suas quintas no Estoril e em Odivelas. A paixão pelas caçadas da lebre e da raposa era tão forte que Fernando Moniz Galvão, que chegou a presidente da Sociedade Hípica Portuguesa, mandou construir canis em Benavente, numa propriedade do banco.
Maria do Carmo Moniz Galvão estava em Londres quando os médicos britânicos diagnosticaram um quisto no pulmão do marido. Antes que degenerasse num tumor maligno, Manuel Ricardo foi aconselhado a ser operado. Até à cirurgia, apesar do cansaço crescente, manteve um ritmo de trabalho acelerado. Desdobrava-se em reuniões e viagens constantes entre continentes.
CHEGOU A LONDRES na véspera da sua operação, depois de uma viagem pelos Estados Unidos. O médico Machado Macedo, seu primo (casou com Madalena de Mello, filha de Maria Ribeiro Espírito Santo Silva, tia de Manuel Ricardo), assistiu à intervenção no Brompton National Heart and Lung Institute, numa sexta-feira, 15 de Março de 1991. A operação correu aparentemente bem e, passados seis dias, Manuel Ricardo estava de volta a casa, em Kensington Court Gardens. Morreria uma semana depois, na madrugada de sábado, dia 23, com uma embolia pulmonar, poucos meses antes de completar 58 anos. O Rei Juan Carlos de Espanha, amigo da família, fez questão de telefonar pessoalmente a Maria do Carmo para lhe dar as condolências, uma vez que não pôde ir ao funeral, no Mosteiro dos Jerónimos.
Depois da morte do marido, Maria do Carmo Moniz Galvão continuou a dividir o seu tempo entre o Estoril, Lausanne, Londres e Miami. Católica, como é tradição nos Espírito Santo, vai à missa todos os finsde-semana e gosta de estar com a família nas datas mais importantes, como a Páscoa e o Natal.
Este ano, como é costume, vai passar a consoada com os quatro filhos e os 13 netos na Quinta do Peru – uma das casas que herdou do marido. Sempre da maneira mais discreta possível.
Com Ana Taborda e Rita Roby Gonçalves

Original em: http://blog.wilson.com.pt/2009/10/20/maria-esprito-santo/