O alemão Bertolt Brecht dizia que
existem homens que lutam um dia e são bons, há outros que lutam um ano e são
melhores, há os que lutam muitos anos e são muito bons, mas há os que lutam
toda a vida e estes são imprescindíveis. Sem exageros, assim foi João Alves
Galvão. Homens dessa magnitude não são esquecidos; a comunidade o lembrará
sempre. A própria palavra de Deus pede, através Livro Sagrado: ‘mostra quem são
eles e de onde vieram’.
João Alves Galvão
nasceu à margem esquerda do rio Curimataú, no Sítio Porteiras, no município
potiguar de Pedro Velho, no dia 6 de Setembro de 1914. Seu pai, Francisco Alves
Galvão, era homem de reputação exemplar, conhecido como homem inteligente e de ciência pelos seus pares. Sua mãe,
Alcina Lopes Galvão, era uma mulher linda, de características indígenas como as
brasileiras em geral.
Desde pequeno, João
Alves, despontou como um garoto prodígio. A própria professora o entregou ao
pai dizendo que não tinha mais nada para ensiná-lo. Ele já havia feito todas as
lições do livro antes que a professora mandasse. Na juventude, ajudava ao pai
nos trabalhos de agricultor e como comerciante nas feiras livre de
Canguaretama, Goianinha e Nova Cruz.
Em 1949 tomou a
resolução de morar em Canguaretama, a cidade mais promissora da região. Deixou
a casa do pai e desembarcou na Estação da
Penha, às 7 horas da manhã, do dia 25 de maio, uma quarta-feira. Na bagagem
estavam as mercadorias para iniciar sua vida de comerciante na cidade. Para
começar o negócio teve a ajuda destacada de Paulírio Martins de Castro que lhe
ensinou algumas técnicas de comércio e Abdias Martins de Castro, parentes amigos
que sempre o incentivaram.
Sua primeira
hospedagem foi na casa de Dondom, Laura
de Oliveira Galvão, prima de seu pai, no Sertãozinho. Estabeleceu-se no centro da cidade, numa loja dentro do mercado. Sua
primeira venda foi a um garoto que lhe comprou cinco confeitos por um tostão
(cem réis). Negociava junto com o irmão, Raimundo, e por isso logo ficou
conhecido como Dois Irmãos. Esse
apelido foi dado pela Negra Salvina,
que regularmente tomava uns goles de cachaça no seu comércio.
Logo se destacou e
comprou, a Severino Martins de Castro, a loja que tinha sido de João Ciro
Fagundes, por quatro mil réis. A partir disso não parou mais, até tornar-se o
maior comerciante de Canguaretama nos anos de 1970. Na época foi o primeiro
comerciante da cidade a retirar o “balcão” e montar algo parecido com os
supermercados de hoje. Fazia todos os cálculos de cabeça, mas gostava de ter
sempre um lápis à mão.
Homem que se
destacava pela beleza, estava sempre vestido com uma camisa branca e calçado
com um sapato preto, sua indumentária diária. Já alicerçado no município,
conheceu e casou com a paraibana Lúcia Alves de Araújo em 18 de junho 1955 e
com ela ergueu uma família de 11 filhos, todos nascidos e criados em Canguaretama.
Na política esteve
ligado a José de Carvalho e Silva, João Gomes de torres e Marcílio Martins de
Castro. Foi do PSD, depois ARENA e PDS: um dinartista
sem paixão. Nas campanhas políticas nunca aceitou ser candidato a cargo
eletivo, muito embora quisesse exercer o controle de decisões delicadas. Para isso tinha apoio dos amigos e parentes.
Homem de muitas amizades, foi o fiador secreto dos amigos, salvando o
investimentos de muita gente. Alguns de seus amigos eram adversários políticos,
mas sempre amigos pessoais. Todos os grandes políticos do Rio Grande do Norte
passaram por sua residência e apertaram sua mão.
Em 1959 comprou a
Fazenda São Francisco, em
Pedro Velho, em frente ao sítio onde nasceu, passando a ser
criador de gado nelore e plantador de coco e cana-de-açúcar, além de explorar a
extração de pedras para calçamento, mas nunca quis sair de Canguaretama. Por
esse motivo, em 2000, a egrégia Câmara Municipal de Canguaretama lhe homenageou
com o título de cidadão canguaretamense, o qual aceitou com muito orgulho.
Conversar com os
humildes e doentes era sua profissão na velhice. Ajudava e visitava os mais pobres
sem pretensões políticas ou cobranças eleitoreiras. Conhecia os recantos dos
lares e sentimentos do povo.
Para a família foi
mais que um líder, foi um guia que ensinava como fazer. Atencioso, ágil,
governava como um monarca bondoso, inteligente e fiel. Era o conselheiro
preciso, um farol que não apagava, dando o sinal de esperança. Tinha solução
para tudo. Seu prognóstico era infalível.
Tinha uma vida
saudável: não bebia, não fumava, seu esporte era o trabalho e a alimentação
regrada. Seu café da manhã era de rei, seu almoço era de príncipe, seu jantar
era de mendigo. Na velhice não precisou de ajuda, continuou autônomo até o fim.
Foi acometido de acidente vascular cerebral grave no dia 14 de outubro. Ficou
hospitalizado, mas sempre consciente, até partir para a Cidade de Deus, no dia 26 de outubro, dia da poesia.
Parecia calcular
tudo. Agüentou firme até ser visitado por todos os filhos no hospital. Enquanto
esteve hospitalizado todas as madrugadas foram visitadas por neblinas leves que
preparavam o solo que o receberia. ...
Seus pedidos eram
simples e todos já sabiam: ser sepultado na terra onde nasceu, ao lado do pai e
da mãe; no esquife mais barato que pudesse, para lembrar sua humildade; pediu
também que lhe vestissem o terno branco de seu casamento. Tudo foi cumprido à
risca. Enfatizando que o destino se encarregou de que o seu sepultamento fosse
no dia que ele mais gostava: sábado, o dia de feira. E durante todo esse tempo
que ele esteve internado, os céus choraram a sua perda por todos nós.
Mestre verdadeiro é aquele que ajuda a esculpir nas almas as mais belas
lições de sabedoria. Verdadeiro professor é aquele que toma das mãos do homem,
ainda criança, e o conduz pela estrada segura da honestidade e da honradez. O
verdadeiro mestre é aquele que segue à frente, sinalizando a estrada com os
próprios passos, com o exemplo do otimismo e da esperança.
Nenhum comentário:
Postar um comentário