Total de visualizações de página

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

A mulher mais rica de Portugal

A vida misteriosa da mulher mais rica do país

PERFIL. A VIDA DE MARIA DO CARMO MONIZ GALVÃO

A MILIONÁRIA MISTERIOSA
Foge dos fotógrafos, tem "horror" a que falem dela, evita festas e não dá entrevistas. Gosta de viajar, de guiar carros desportivos e de antiguidades. Aos 74 anos é a mulher mais rica do País.
Por Helena Cristina Coelho
Assim que desembarca no aeroporto de Genebra, na Suíça, depois de um cómodo voo em classe executiva, como é habitual, Maria do Carmo Moniz Galvão Espírito Santo Silva pode ter à espera um automóvel e um motorista para a levar a Lausanne, onde tem casa, e a todos os outros locais que quiser. É uma gentileza que o grupo Espírito Santo, do qual é a maior accionista individual, com uma participação de 16%, lhe oferece. Mas Maria do Carmo dispensa-a. Ela própria trata de alugar um carro que depois conduz durante os dias em que está no país. Se alguém lhe pergunta o motivo para recusar a mordomia, responde sem rodeios: "Não preciso."
A mulher mais rica de Portugal adora conduzir e os modelos desportivos sempre foram os seus favoritos, sobretudo os Alfa Romeo – uma paixão que herdou do pai, Fernando Moniz Galvão (fundador das empresas de retalho automóvel Mocar e Santomar), que também era fascinado pela marca italiana. Nos últimos tempos, contudo, "trocou os italianos pelos alemães", conta um amigo da família: passou a conduzir BMW e, por vezes, também Mercedes. "Ela é muito independente e tira verdadeiro prazer da condução, da sensação de controlar a máquina", conta a mesma fonte.
Esta paixão pelos automóveis não se apagou nem mesmo depois de sofrer um acidente numa auto-estrada suíça, há cerca de dois anos, revela uma amiga dos Espírito Santo. Os danos no carro acabaram por ser ligeiros e o incidente valeu-lhe apenas um susto.
AOS 74 ANOS, MARIA DO CARMO Alzira Moniz Galvão Espírito Santo Silva é dona da sétima maior fortuna de Portugal (que atinge os 768,1 milhões de euros, segundo o ranking da revista Exame e pertence a uma das famílias mais poderosas do País. No entanto, mantém uma vida misteriosa, sem exibicionismos e longe da imprensa. Nunca deu entrevistas, não se deixa fotografar pela imprensa e so comparece em ocasiões em que pode permanecer discreta.
As assembleias gerais ou as grandes reuniões do Grupo Espírito Santo (GES) são alguns desses eventos. Em Junho do ano passado, no encontro anual de investidores, em Lausanne, Maria do Carmo chegou atrasada. Sendo uma das accionistas mais importantes, justificava-se que ocupasse um dos lugares da frente.
A sua preocupação, contudo, foi encontrar uma cadeira nas últimas filas onde pudesse assistir às apresentações do filho, Manuel Fernando Espírito Santo, e do primo, Ricardo Salgado, sem dar nas vistas. No fim do encontro, porém, quando se encaminhavam para o almoço, muitos dos presentes reconheceram Maria do Carmo Moniz Galvão e dirigiram-se a ela para a cumprimentar.
A família e os amigos conhecem esta sua faceta reservada e fazem tudo para a respeitar. "Ela é assim mesmo não revela muito da sua vida. Pode parecer distante ou arrogante, mas não é nada disso", conta uma amiga de muitos anos. Um membro da família Espírito Santo garante mesmo que Maria do Carmo "não fala de si e tem horror a que se fale dela".
O seu círculo de amigos inclui milionários e membros de casas reais, mas ela evita a todo o custo uma vida social activa. A excepção são as idas ao teatro e ao cinema, que aprecia bastante, e o convívio com a família, a cujos encontros, festas de casamento ou de aniversário faz questão de comparecer. Mesmo nesse ambiente mais informal, é pouco exuberante.
Ninita, o diminutivo pelo qual a tratam os parentes e amigos mais íntimos, "é tímida, não fala muito", comenta uma fonte próxima. "Também não é pessoa de contar grandes histórias ou de ter sentido de humor, mas e simpática", reforça. Destaca-se sobretudo pelo porte elegante e pela roupa clássica cuja marca ou estilista raramente se conseguem perceber. Sempre gostou de se vestir bem. Quando se casou, em 1954, levou um modelo moderno, muito semelhante ao que Grace Kelly usaria quase dois anos depois no casamento com o príncipe Rainier do Mónaco.
TODO O PATRIMÓNIO que Maria do Carmo tem hoje foi acumulado por herança. Filha única, deve uma boa parte da fortuna ao pai, Fernando Moniz Galvão, que foi um importante accionista do Banco Espírito Santo e Comercial de Lisboa (BESCL) até à sua nacionalização, em 1975.
Dos investimentos, além de propriedades imobiliárias, sobretudo em Lisboa, faziam ainda parte duas empresas do sector automóvel: a Mocar (anagrama de Carmo), fundada em 1946 como importadora exclusiva da Alfa Romeo e da Peugeot para Portugal, e a Santomar, representante da Honda a partir de 1967.
Hoje esse império automóvel está reunido na Santogal, holding controlada a 100% por Maria do Carmo Moniz Galvão, que factura mais de 450 milhões de euros por ano.
O grupo de retalho, que tem uma rede de stands em Portugal e em Madrid, representa 30 marcas automóveis, entre elas a Alfa Romeo, Audi, BMW, Ferrari, Honda, Jaguar, Land Rover, Maserati, Mercedes, Mitsubishi e Peugeot ou as motas Honda. Tem ainda uma marca própria de venda de carros usados, a Nacional Car.
Maria do Carmo recebeu ainda a herança de uma tia, Maria Cristina Moniz Galvão, de quem era a única sobrinha. Mas o seu património saiu bastante reforçado com o casamento, em 1954, com o primo em segundo grau Manuel Ricardo Espírito Santo Silva, que foi presidente do BESCL de 1973 até à sua nacionalização, passados dois anos.
Foi ele, juntamente com outros banqueiros da família, quem esteve, mais tarde, na origem do grupo Espírito Santo, que agrupa as duas grandes áreas de negócio: a Espírito Santo Financial Group, liderada por Ricardo Salgado e responsável pela actividade financeira do grupo, e a Espírito Santo Resources (ESR), que dirige os negócios não financeiros da família.
Esta ultima empresa, da qual Manuel Fernando Espírito Santo, filhho de Maria do Carmo, é presidente, factura mais de mil milhões de euros por ano e está entre os dez maiores grupos do País. Os seus interesses estendem-se a vários sectores (turismo, imobiliário, agricultura e pecuária) e países (da Europa ao Brasil, passando pelo Paraguai, Angola, África do Sul ou Estados Unidos).
Maria do Carmo nunca se quis envolver directamente na gestão das empresas. Primeiro entregou essa responsabilidade ao marido e, após a morte de Manuel Ricardo Espírito Santo Silva, em 1991, delegou-a aos filhos Manuel Fernando e Fernando Manuel, este último à frente da Santogal.
AMBOS LHE DÃO CONTA da evolução dos negócios e das decisões mais importantes de modo informal, nos encontros familiares ou sempre que falam por telefone. Fernando Martorell, administrador-delegado da ESR e amigo da família, é outra das pessoas em quem Maria do Carmo confia para saber resultados e estratégias do grupo e com quem mantém um contacto regular.
As outras duas filhas estão afastadas dos negócios, cumprindo o que é uma tradição entre os Espírito Santo: apenas os homens cuidam do dinheiro. A mais velha, Mafalda, 52 anos, é casada pela segunda vez e tem três filhas. Madalena, dois anos mais nova, vai no terceiro casamento e tem quatro filhos.
Manuel Fernando, com 49 anos, é o mais velho dos dois filhos. Viveu 20 anos em Londres, onde conheceu a actual mulher, a sueca Rosina Ekman, que por influência do marido deixou a religião protestante para se converter ao catolicismo. O gestor só regressou a Portugal, em 1996, para tomar conta de uma parte importante dos activos do grupo familiar.
É um executivo reservado, tal como o irmão mais novo, Fernando Manuel, 44 anos, responsável pela condução da Santogal e um apaixonado por carros. Fora dos negócios, dedica-se às corridas GT, ao volante de um Ferrari F430 negro, juntamente com o sobrinho, Ricardo Bravo, com quem tem somado vários triunfos.
A atitude reservada dos filhos só é superada pela da mãe, que há muitos anos optou por viver parte do tempo fora de Portugal. Quando não está numa das suas moradias no Estoril ou na Quinta do Peru, em Azeitão, onde costuma passar o Natal em família, o mais provável e encontrar Maria do Carmo Moniz Galvão nos arredores de Lausanne junto ao lago Genebra, onde mantém uma residência fixa. A zona é cosmopolita e, nos últimos tempos, tornou-se num pólo de atracção de milionários que investem fortunas em mansões luxuosas.
SEMPRE PREFERIU OS AMBIENTES de montanha aos de praia. Gosta de visitar Londres de vez em quando e Miami, pelo menos, uma vez por ano. Quando vai a Inglaterra, fica num hotel. A família tinha uma casa em Kensington Court Gardens, um bairro de estilo vitoriano junto ao palácio de Kensington, mas vendeu-a pouco depois da morte de Manuel Ricardo Espírito Santo Silva.
Quando sabem que está em Portugal, os amigos mais próximos desafiam-na para festas e jantares. Mas Maria do Carmo Moniz Galvão não gosta de grandes grupos nem de ambientes confusos. Prefere encontros com pouca gente: duas ou três pessoas é o ideal, os petits comités, como lhe chama.
Escolhe criteriosamente os seus convívios sociais e é raro fazer convites. "Se eu lhe ligar para almoçar, vem toda contente, mas é incapaz de tomar a iniciativa de convidar", confessa uma amiga de muitos anos. Nos últimos meses, a doença da mãe, Maria Carolina Sommer Alzina, com 97 anos, tem sido o principal motivo das suas estadias no Estoril. E, também por isso, passa temporadas cada vez maiores em Portugal.
NÃO SE CONHECEM grandes extravagâncias a Maria do Carmo Moniz Galvão, excepto as viagens, os carros e as antiguidades. "Gosta sobretudo de porcelanas e móveis, mas também de pintura. E sabe escolher as peças", que compra sempre em antiquários, conta uma amiga. A técnica para distinguir as genuínas das fraudes aprendeu-a com os pais, mas também com o marido, que comprava, "mais por gosto do que por investimento", segundo um amigo do casal. Ainda hoje, "gosta de viver rodeada de coisas bonitas", sejam móveis, porcelanas ou livros.
Maria do Carmo e Manuel Ricardo tinham ambos 21 anos quando se casaram, em 1954, juntando dois ramos dos Espírito Santo e formando a maior fortuna do clã. Maria do Carmo é a única descendente do primeiro casamento do fundador José Maria Espírito Santo Silva com Maria da Conceição (ver infografia), uma rapariga de 17 anos criada como órfã depois de ter sido deixada na roda, à porta da Santa Casa da Misericórdia, em Lisboa.
Tiveram uma filha, Maria Justina, que recebeu metade da fortuna do pai no dia do casamento com o médico Custódio Moniz Galvão. Desta união nasceram dois filhos – o único que deixou descendentes foi Fernando Moniz Galvão. A sua filha, Maria do Carmo, só teve uma irmã, Maria Carolina, que nasceu oito anos depois dela, mas que morreria nesse mesmo ano.
Representante da terceira geração da família, o filho mais velho de Manuel Espírito Santo, Manuel Ricardo, chegou a presidente do BESCL aos 40 anos, num momento especialmente difícil.
A era dourada da banca estava a chegar ao fim, a crise petrolífera minava todos os sectores de actividade e a economia mundial retraía-se.
A revolução de 25 de Abril de 1974 só agravou o cenário para os Espírito Santo e especialmente para Maria do Carmo Moniz Calvão: dois dias depois da morte do seu pai, o marido era preso.
No dia 11 de Março de 1975, Manuel Ricardo regressava ao banco depois do almoço quando o porteiro o avisou: aguardavam- -no na sala de administração, com ordens para o levar. O funcionário sugeriu-lhe que fugisse enquanto havia tempo. Mas Manuel Ricardo não recuou. "O meu lugar é ao pé dos meus colegas de administração", disse.
Seria detido instantes depois, juntamente com António Ricciardi, que se mantém na administração do Banco Espírito Santo, e José Roquette, que trocou a banca pelos próprios negócios, dos quais se destaca a Herdade do Esporão. Maria do Carmo, que já passava pequenas temporadas em Londres, estava em Lisboa nessa altura. A pedido do marido, mudou-se definitivamente para Inglaterra com os filhos.
Durante esse período, viveram num pequeno apartamento. Sem empregada doméstica, dividiram o trabalho em casa entre todos. Os filhos aprenderam a cozinhar, a lavar loiça, a tratar da roupa, a arrumar. Uma amiga da família lembra-se de os visitar nessa altura. Ao tocar à porta, Maria do Carmo "estava a limpar as carpetes. Quando chegou a Londres não quis ter empregada e ela própria fazia tudo. Sempre foi uma pessoa muito simples".
Manuel Ricardo só se mudou para Inglaterra quando deixou a prisão de Caxias, em Agosto de 1975, depois de um pedido especial de Giscard d’Estaing, Presidente francês e amigo da família, junto do Movimento das Forças Armadas (MFA).
Foram os tempos de maior aperto. As contas em Lisboa estavam congeladas, o banco tinha sido nacionalizado e os Espírito Santo estavam impedidos de desenvolver os seus negócios em Portugal. Apenas as empresas de Maria do Carmo (a Mocar e a Santomar) escaparam, por não estarem na alta finança nem na indústria, as áreas mais cobiçadas pelo Governo. Isso seria determinante para a herdeira garantir o fôlego financeiro da família nessa época.
Enquanto o País vivia o período revolucionário, os banqueiros Espírito Santo refaziam os seus interesses financeiros no estrangeiro. Ricardo Salgado e Mário Mosqueira do Amaral, amigo da família, desdobravam-se em contactos com várias famílias financeiras.
O nome Espírito Santo acabou por se revelar um activo essencial. Em 1978, numa reunião mundial de bancos em Boston, diante dos novos gestores públicos do BESCL, o presidente do Banco Mundial, Robert McNamara, sentou Manuel Ricardo Espírito Santo Silva à sua direita e apresentouo como o legítimo presidente do banco. A atitude foi vista como um apoio evidente.
NA MESMA ALTURA, o milionário norte-americano David Rockefeller, dono do Chase Manhattan Bank, abriu uma conta na sede, em Nova Iorque, em nome do marido de Maria do Carmo Moniz Galvão e disponibilizou-se para lhe conceder crédito sempre que necessário. Ainda hoje os Espírito Santo mantêm a amizade com os Rockefeller, um dos mais ricos e carismáticos clãs norte-americanos.
Sob a liderança de Manuel Ricardo, a família refez então os negócios no estrangeiro (Luxemburgo, Reino Unido, Brasil, França, Estados Unidos e Suíça), organizando o grupo Espírito Santo, em 1976.
Embora Maria do Carmo não se envolvesse directamente nos negócios, o banqueiro pedia-lhe muitas vezes opinião, especialmente sobre os parceiros de investimento, porque reconhecia na mulher "um sentido muito apurado de análise das pessoas", diz um amigo. Por outro lado, respeitava os negócios que a mulher herdara do pai como um património independente. Por isso, nunca os quis controlar – apenas os geria, a pedido dela.

Quando esteve preso, a gestão da Mocar e da Santomar foi entregue ao braço-direito de Manuel Ricardo, Miguel Jorge Horta e Costa, 5º barão de Santa Comba Dão e primo afastado do ex-presidente da Portugal Telecom. A confiança neste gestor era tal que chegou a passar-lhe uma procuração com poderes ilimitados. Durante esse período, era ele que reportava a Maria do Carmo sobre o andamento dos negócios.
QUANDO VOLTARAM a estar juntos, dividindo o tempo entre as casas de Lausanne e de Londres, Maria do Carmo convivia sem dificuldades com a agenda frenética do marido. Passavam grandes temporadas na Suíça, por causa dos negócios financeiros, mas as deslocações à capital britânica, para contactos e reuniões de trabalho, eram frequentes.
Londres tornou-se o local favorito do casal. "Maria do Carmo tinha-se adaptado tão bem à cidade, que preferia que o grupo se tivesse reestruturado em Inglaterra e não na Suíça", diz uma fonte próxima. Era lá que estavam alguns dos seus maiores amigos, como Isabel de Palmela. filha da duquesa de Palmela, de quem foi vizinha. Ainda hoje mantêm uma forte amizade.

Para Maria do Carmo, a ligação a Londres não era nova. Os seus pais, Fernando Moniz Galvão e Maria Carolina Sommer Alzina, iam regularmente a Inglaterra, onde tinham amigos, para participarem em caçadas à raposa. Também era comum comprarem lá cães e cavalos de raça, que levavam para as cavalariças das suas quintas no Estoril e em Odivelas. A paixão pelas caçadas da lebre e da raposa era tão forte que Fernando Moniz Galvão, que chegou a presidente da Sociedade Hípica Portuguesa, mandou construir canis em Benavente, numa propriedade do banco.
Maria do Carmo Moniz Galvão estava em Londres quando os médicos britânicos diagnosticaram um quisto no pulmão do marido. Antes que degenerasse num tumor maligno, Manuel Ricardo foi aconselhado a ser operado. Até à cirurgia, apesar do cansaço crescente, manteve um ritmo de trabalho acelerado. Desdobrava-se em reuniões e viagens constantes entre continentes.
CHEGOU A LONDRES na véspera da sua operação, depois de uma viagem pelos Estados Unidos. O médico Machado Macedo, seu primo (casou com Madalena de Mello, filha de Maria Ribeiro Espírito Santo Silva, tia de Manuel Ricardo), assistiu à intervenção no Brompton National Heart and Lung Institute, numa sexta-feira, 15 de Março de 1991. A operação correu aparentemente bem e, passados seis dias, Manuel Ricardo estava de volta a casa, em Kensington Court Gardens. Morreria uma semana depois, na madrugada de sábado, dia 23, com uma embolia pulmonar, poucos meses antes de completar 58 anos. O Rei Juan Carlos de Espanha, amigo da família, fez questão de telefonar pessoalmente a Maria do Carmo para lhe dar as condolências, uma vez que não pôde ir ao funeral, no Mosteiro dos Jerónimos.
Depois da morte do marido, Maria do Carmo Moniz Galvão continuou a dividir o seu tempo entre o Estoril, Lausanne, Londres e Miami. Católica, como é tradição nos Espírito Santo, vai à missa todos os finsde-semana e gosta de estar com a família nas datas mais importantes, como a Páscoa e o Natal.
Este ano, como é costume, vai passar a consoada com os quatro filhos e os 13 netos na Quinta do Peru – uma das casas que herdou do marido. Sempre da maneira mais discreta possível.
Com Ana Taborda e Rita Roby Gonçalves

Original em: http://blog.wilson.com.pt/2009/10/20/maria-esprito-santo/

Bibliografia Genealógica Potiguar

Objetivando auxiliar a tantos quantos desejem pesquisar sobre famílias potiguares, apresento a bibliografia genealógica potiguar. Serão considerados além dos autores potiguares, as genealogias escritas por autores de outros estados que versem sobre famílias potiguares em seus trabalhos.
Destaco para conhecimento de todos os interessados em genealogia potiguar, dois grandes genealogistas que no anonimato em que desejam estar, desenvolvem pesquisas sérias e fundamentadas, sendo fonte imprescindível para os pesquisadores do Rio Grande do Norte, são eles: Fernando Bezerra Galvão, genealogista currasnovense, que domina a genealogia seridoense como poucos, sendo fonte para muitos, inclusive para mim, pesquisador da família do Cel. José Bezerra de Araújo Galvão.

O outro genealogista é o Toscano, simples e bom, pesquisador daqueles que não dispensam os papéis velhos e esquecidos do nosso Instituto Histórico, bem como os registros cartoriais e da Cúria Metropolitana do Natal, buscando estabelecer ligações, encontrar entroncamentos, sem nunca permanecer na primeira informação.

Fernando Bezerra Galvão e Toscano, não possuem livros escritos. São exemplos formidáveis de humildade. Seus conhecimentos dariam inúmeros livros acerca de nossos antepassados. Mas preferem repassar o que sabem, porque para eles a satisfação reside na pesquisa.
Através de meu apelo insistente decidiram se filiar ao nosso Instituto de genealogia. Porém, nunca participam de discussões e dos encontros, preferindo continuar em suas pesquisas constantes e ajudando desinteressadamente a tantos que os procurem.

Por fim, listo as genealogias de Luiz da Câmara Cascudo. Esse autor que se interessou por tudo que dizia respeito ao seu Rio Grande do Norte, não se furtou de deixar consignada sua contribuição a genealogia estadual, apresentando suas genealogias nas Actas Diurnas e posteriormente na Revista Genealógica Brasileira.


ALVES, Celestino. Retoques da História de Currais Novos. Natal: Fundação José Augusto, PMCN, 1985;
AMARAL, Aldysio Gurgel do. Na Trilha do Passado: genealogia da família Gurgel. Fortaleza: Tipografia Minerva, 1986;
ARAÚJO, Antônia Figueirêdo. Retalhos de família: revivendo gerações. Caicó: Mater Dei, 2007;
ARAÚJO, Boanerges Januário Soares de. Cel. Pedro Soares de Araújo: o patriarca. Natal: 1957;
ARISTON, Eunice. Olegário Vale: o idealista. Natal: RN Econômico, 2004;
AZEVEDO, Max Cunha de. Coronel Felinto Elizio: ilustre patriarca do Seridó. Natal: Nordeste Gráfica e Editora, 2006;
AZEVEDO, Galdino Vieira de. Há Mais de Meio Século. Macaíba: 2006;
AZEVEDO, Aluizio. Famílias Azevedo, Dantas, Medeiros e Rocha no Rio Grande do Norte. Coleção mossoroense, série “C”, V. 1340. Natal: Gráfica de Fato, 2002;
BASTOS, Sebastião de Azevedo. No Roteiro dos Azevedos e Outras Famílias do Nordeste. João Pessoa: Gráfica Comercial, 1954-1955;
BEZERRA, José Augusto de Medeiros. Famílias Seridoenses. Rio de Janeiro: Irmãos Pongetti Editores, 1940;
BEZERRA, Luiz G. M. Silvino Bezerra Neto. Mossoró: Fundação Guimarães Duque, Coleção Mossoroense, série “C”, vol. 1251, 2001;
BEZERRA, Silvino. Lembrança para Minha Família. Natal: Gráfica União, 1962;
BEZERRA, Silvino. Caetano Dantas Correa e o Sítio Ingá. Tipografia Villar, 1957;
BRANCO SOBRINHO, José Moreira Brandão Castelo. Moreira Brandão. Rio de Janeiro: separata da revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, 1959;
BRASIL, Paulo M. Assis. Bravos Sertanejos do Seridó: famílias de Portugal e do Brasil. Os Dantas Corrêa e os Ribeiro Dantas. Natal: Sebo Vermelho, 2002;
BRITO, Raimundo Soares de. Alferes Teófilo Olegário de Brito Guerra: um memorialista esquecido. Mossoró: Coleção Mossoroense, vol. CXXXII, 1980;
CÂMARA, Adauto da. Câmaras e Mirandas Henriques. Natal: Departamento Estadual de Imprensa, 2006;
CASCUDO, Luiz da Câmara. Conde D’Eu. Rio de Janeiro: Editora Nacional, 1933;
_________. A família do Pe. Miguelinho. Natal: Coleção Mossoroense, N.55, Departamento de Imprensa, 1960;
_________. Jerônimo Rosado (1861-1930): uma ação brasileira na província. Rio de Janeiro: Pongetti, 1967;
_________. Os Carrilho do Rio Grande do Norte. Revista Genealógica Brasileira. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1941;
_________. João Lustal Navarro e seus descendentes. In O Livro das Velhas Figuras nº 03;
_________. Francisco da Costa e Vasconcelos. In O Livro das Velhas Figuras nº 03;
_________. Francisco Machado de Oliveira Barros. In O Livro das Velhas Figuras nº 03;
_________. A Família do Padre Miguelinho. In O Livro das Velhas Figuras nº 03;
_________. Nísia Floresta e alguns parentes. In O Livro das Velhas Figuras nº 04;
_________. O Fundador da família Raposo da Câmara. In O Livro das Velhas Figuras nº 04;
_________. O primeiro Joaquim Inácio Pereira. In O livro das Velhas Figuras nº 05;
_________. Joaquim Torquato Soares Raposo da Câmara. In O livro das Velhas Figuras nº 05;
_________. Os antepassados de Câmara Filho. In O livro das Velhas Figuras nº 05;
_________. Joaquim José do Rego Barros. In O livro das Velhas Figuras nº 06;
_________. Gonçalo Morgado. In O livro das Velhas Figuras nº 06;
_________. Descendência de Joris Garstman? In O livro das Velhas Figuras nº 06;
__________. A Família Ribeiro Dantas. In O livro das Velhas Figuras nº 06;
__________. Os descendentes de Joaquim Inácio Pereira. In O livro das Velhas Figuras nº 07;
_________. A Casa de Cunhaú: história e genealogia. Brasília: Senado Federal, 2008;
COSTA, Sinval. Os Álvares do Seridó e suas ramificações. Recife: Comunigraf Editora, 1999;
ESCÓSSIA, Lauro da. As Dez Gerações da Família Cambôa: estudo genealógico. Mossoró: Coleção Mossoroense, vol. 55, 1978;
FERNANDES, João Bosco; MOUSINHO, Antônio Fernandes. Memorial de Família: pesquisa genealógica. João Pessoa: Halley Editora, 1994;
FILGUEIRA, Marcos Antônio. Esboço Genealógico da Família Burlamaqui. Mossoró, coleção mossoroense, série “C”, vol. DXXXIX, 1990;
FILHO, Antônio Othon. Meio Século da Roça à Cidade: cinqüentenário de Currais Novos. Recife: Companhia editora de Pernambuco, 1970;
FILHO, Juvêncio Cunha. Nossa Origem, Nossa Descendência. Natal: 2ª edição, CERN, 1990;
GALVÃO, Dagoberto Félix Bezerra de Araújo. Reminiscências. Brasília: 1984;
GUIMARÃES, Gaspar Antônio Vieira. Doze Gerações: notas genealógicas. Rio de Janeiro: Irmãos Pongetti, 1936;
JOPPERT, Gustavo Pedrosa. Os Pedrosa. Rio de Janeiro: edição do autor fora de comercio, 1991;
LAMARTINE, Pery. Assentamentos da Família Lamartine. Natal: Editora Clima, 1982;
___________. Coronéis do Seridó. Natal: sebo vermelho, 2005;
LINHARES, Mário. Os Linhares: retrospecto genealógico 1690-1939. Rio de Janeiro: Irmãos Pongetti, 1939;
LOPES, José Evangelista. Itajá dos Lopes. Natal: Clima, 1987;
WANDERLEY, Walter. Família Wanderley: história e genealogia. Rio de Janeiro: Irmãos Pongetti, 1966;
MACÊDO, Antônio Soares de. Breve Noticia sobre a Árvore Genealógica da Família Casa Grande, residente em Assú, Estado do Rio Grande do Norte. Natal: Tipografia Natelense, 1893;
MARANHÃO, João de Albuquerque. História da casa de Cunhaú;
MARANHÃO, Paulo Frederico Lobo. A família Maranhão do Cunhaú ao Matary. Recife: Comunigraf, 2001;
MEDEIROS FILHO, Olavo. Velhas Famílias do Seridó. Brasília: Senado Federal, 1981;
___________. Origens Genealógicas dos Morais Navarro no Nordeste Brasileiro. Mossoró: Coleção Mossoroense, série “B”, nº 470, 1988;
___________. O Engenho Cunhaú à Luz de um Inventário. Natal: Fundação José Augusto, 1993;
___________. Os Barões do Ceará-Mirim e Mipibú. Mossoró: Coleção Mossoroense, Série “C”, vol. 1410, 2005;

MEDEIROS, Kyval da Cunha. Cinco Gerações: o coronel Ambrósio de Medeiros e sua descendência. São Paulo, 1945;
MEDEIROS, Tarcízio Dinoá. Genealogia de uma Família do Seridó. Brasília: Verano Editora, 2007;
MELO. Manoel Rodrigues de. Patriarcas e Carreiros: influência do coronel e do carro de boi na sociedade rural do nordeste. Rio de Janeiro: Irmãos Pongetti Editores. 2ª edição, 1954;
MOURA, Carlos Alberto Dantas. Família Ribeiro Dantas de São José de Mipibú. Brasília: Senado Federal, 1985;
NÓBREGA, Trajano Pires da. A Família Nóbrega. São Paulo: 1956;
ONOFRE, Manoel Jr. Espírito de Clã. Natal: offset gráfica, 2003;
OLIVEIRA, Rossini Fernandes de. José Josias Fernandes: perfil de um homem público. Natal: Departamento Estadual de Imprensa, 2000;
PEREIRA, Ernestino de Araújo. Manoel Elias e sua Família Araújo Pereira. Rio de Janeiro: Companhia Brasileira de Artes Gráficas, 1983;
QUEIROZ, Alcides Francisco Villar de. Villar & Cia: apontamentos de história familiar. Natal: Gráficos Boch, 1998;
_________. Villar & Cia 2: apontamentos de história familiar. Rio de Janeiro: Fábrica dos Livros, 2003;
ROSADO, Cid Augusto Escóssia. Escóssia. Mossoró: Coleção Mossoroense, série “C”, vol. 989, 1998;
ROSADO, Vingth-un. Informação Genealógica Sobre Alguns Rosados. Mossoró: Coleção Mossoroense, 1982;
ROMÃO, João Evangelista. Além dos Jardins: história e genealogia de Jardim de Angicos. Jardim de Angicos, 2006;
SOARES. Arysson da Silva. Descendência de José Batista dos Santos e sua mulhr Josefa Freire de Medeiros (Ou Araújo). 1997;

SOARES, Arysson da Silva. Os Panelas: Descendência do patriarca Clemente de Araújo Pereira e Ana Francelina de Brito. Natal, 2002;
SIMONETTI, Ormuz Barbalho. Genealogia dos troncos familiares de Goianinha-RN. Natal: Offset Gráfica, 2008;
TAVARES, Maria Yolanda Montenegro. Montenegro: a história e uma família, 1634-1996. Fortaleza, Imprensa Universitária, 1996;
TRINDADE, João Felipe da. Servantis ex more servandis: uma genealogia. Natal: Imagem Gráfica, 2008;
VASCONCELOS, Guiomar de. Dados Genealógicos de um Ramo da Família Vasconcelos no Rio Grande do Norte. Natal: Tipografia Gualhardo, 1952;
VIANA, Dudé. A Saga Benevides Carneiro: a história da família mais diversificada do RN. Natal: Departamento Estadual de Imprensa, 2006

FONTE:

Graduado em História. Atualmente é mestrando em Educação pela UFRN e cursa Direito. É sócio fundador do Instituto Norte-Rio-grandense de Genealogia, membro do Instituto Pró-Memória de Macaíba, do Centro Norte-Rio-grandense do Rio de Janeiro e da Academia Macaibense de Letras, onde ocupa a cadeira nº 04, cujo patrono é Augusto Tavares de Lyra.
Copiado de: http://www.historiaegenealogia.com/2011/01/bibliografia-genealogica-potiguar.html

A lenda de Gawaine


Gauvain (Gawain, Gauvaine ou Gawan) é uma das personagens das obras literárias inseridas no Ciclo Arturiano. A personagem é muitas vezes designada por Gawain, variante do seu mais comum nos países anglo-saxónicos, aí normalmente precedida pelo título Sir. Nas versões medievais portuguesas das histórias arturianas, era comum traduzir o nome da personagem para Galvão e precedê-lo pelo título Dom.
Gawaine é muitas vezes descrito como sendo sobrinho do rei Artur, filho de Morgause e irmão de Gaheris, Gareth, Agravaine e Mordred. Possuía um comportamento muito irritadiço, como pode-se constatar em Layamon, onde, quando Artur descobre a traição de Lancelot e Guinevere, Gawaine declara que vai enforcar Mordred com suas próprias mãos e que Guinevere deve ser despedaçada por cavalos selvagens. Outra passagem, descrita por Thomas Malory, onde se pode visualizar o caráter persistente de Gawaine, é mostrada quando do cerco ao castelo de Lancelot. Lancelot, que durante a fuga com a rainha mata Gaheris e Gareth, afirma que a acusação de traição contra ele é falsa e que o julgamento por combate havia mostrado que ele estava certo. Arthur poderia até perdoá-lo, mas Gawaine não deixa que isso ocorra. O clímax da história é a luta entre Gawaine e Lancelot. A luta é interessante, pois mostra vestígios de uma história muito antiga.
Gawaine tem uma peculiaridade que lhe permite ganhar força física no período que vai das nove da manhã até ao meio-dia. Malory diz que isso era um presente de um homem santo, mas é claro que, originalmente, Gawaine era um adorador do "deus-sol". A despeito desta vantagem, Lancelot simplesmente resiste nas horas de força de Gawaine e, quando elas declinam, lança-o à terra. Por duas vezes essa luta sobrenatural acontece e a cada vez que Gawaine é jogado no chão, chama Lancelot para continuar a luta.

Gawaine e o Cavaleiro Verde

O conto mais famoso de 'Gawaine', no entanto, é intitulado Sir Gawain and the Green Knight (D. Gauvain e o Cavaleiro Verde), escrito por volta do ano 1400. No dia do Ano-Novo, quando o rei, a rainha e a corte estão reunidos para um jantar, um cavaleiro de tamanho incomum entra no casarão com seu cavalo. Pede que algum cavaleiro ali presente lhe dê um golpe no pescoço com o machado que ele carrega e que, no próximo Ano-Novo, o oponente esteja na Capela Verde para receber, por sua vez, o seu golpe. O cavaleiro e suas roupas, assim como seu cavalo, os trajes e os arreios, tudo era verde. O ouro e o aço estavam manchados de verde, os arreios reluziam e cintilavam com pedras verdes e filetes de ouro estavam entrelaçados na crina verde do cavalo. Artur imediatamente se oferece para o desafio do cavaleiro, mas Gawaine se interpõe e o toma para si. Com um golpe de machado, decepa a cabeça do cavaleiro que rola pelo chão, espalhando sangue na carne verde. O cavaleiro verde recolhe a cabeça. Levanta as pálpebras, olha vivamente e então encarrega Gawaine de encontrá-lo naquele dia, após um ano, na Capela Verde. Segurando a cabeça pelos cabelos verdes, monta em seu cavalo e deixa o casarão.
Um ano depois, para manter a palavra, Gawaine chega ao castelo de Bertilak, anfitrião cordial e generoso que, por ter cor normal, não é reconhecido como sendo o cavaleiro verde. Gawaine chega ao castelo em completo estado de exaustão. Recebido com hospitalidade, envolvido em um manto de arminhos enfileirados, é convidado a sentar ao lado de uma lareira com brasas de carvão. Quando Sir Bertilak retorna ao seu castelo, depois da caça, recebe o hóspede com muita cortesia e combina com ele que daria o produto de sua caça a Gawaine todo dia e, em troca, Gawaine lhe daria algo que tivesse recebido no castelo.
Os dias se passaram e, quando faltava pouco para findar o prazo, o cavaleiro partiu em busca da Capela Verde. Depois de muito caminhar, chegou a um castelo desconhecido onde pediu abrigo. Gawaine, recebido com a gentileza sempre dispensada aos hóspedes, foi convidado a passar uns dias no castelo com o anfitrião e sua linda esposa. Gawaine contou sua história e o Senhor do Castelo disse-lhe conhecer a capela. Como restassem ainda alguns dias para vencer o prazo, Gawaine aceitou o convite aproveitando o tempo para descansar e recuperar-se para o fatídico encontro. O Senhor do Castelo sugeriu que o jovem jogasse com ele por três dias e, a seguir, o levaria à Capela Verde. O jogo consistia numa troca de presentes. O anfitrião sai a para caçar enquanto Gawaine permanecia no castelo: tudo que conseguisse durante o dia, em suas caçadas, o Senhor do Castelo traria para trocar com o que Gawaine tivesse conseguido ganhar em seu dia no castelo. Aceitas as condições, o jogo assim se deu. No primeiro dia Gawaine passeou e conheceu o castelo, acompanhado pela anfitriã que, sempre que possível, aproximava-se amorosamente do jovem cavaleiro tentando seduzi-lo. Gawaine resistiu heroicamente até que no final do dia consentiu que a dama lhe desse um beijo. Quando o Senhor do Castelo retornou, trazia em suas costas um gamo. Jogou-o no meio do salão, perguntando: “E tu, que ganhas-te?” O cavaleiro de Arthur, apesar de confuso com o que ocorria e ainda inibido pela presença da dama, respondeu com fidelidade: “Um beijo”. Aproximou-se do Senhor do Castelo e beijou-lhe a face. No dia seguinte a situação se repetiu, com intensa sedução da senhora e, ao final da tarde, o jovem cavaleiro cedeu aos encantos da mulher e recebeu as carícias. Quando o Senhor do Castelo chegou, trazia nos ombros um enorme javali e entregando-o, conforme o combinado, perguntou a Gawaine o que ganhara. Como resposta recebeu “dois beijos” em seu rosto. No terceiro dia o assédio se intensificou, assustando Gawaine que temia não conseguir resistir à tentação, uma vez que era um hóspede e sua honra de cavaleiro estava acima de tudo. Mas a insistênci a foi tão explícita que não conseguiu resistir, recebendo três longos beijos. Para seu espanto, a Senhora do Castelo entregou-lhe uma fita verde dizendo-lhe para guardá-la pois o protegeria de tudo, inclusive “dos riscos de vida”. Quando o dia terminou, chegou o anfitrião trazendo uma raposa; quis saber o que Gawaine ganhara. A resposta soou reticente: “ três beijos”, e assim premiou seu anfitrião. Gawaine partiu pela manhã em direção à Capela Verde, orientada pelo Senhor do Castelo e apresentou-se ao seu algoz, que disse. “Vejo que cumpriste com tua palavra; ajoelha-te e coloca tua cabeça neste tronco para que eu possa cortá-la”. Gawaine tremia, com medo; ajoelhou-se sem conseguir abaixar a cabeça. O Cavaleiro Verde espera: “meu jovem, tenho uma tarefa a cumprir e tu me impedes de realizá-la!”. O cavaleiro de Arthur se recompôs e com muito custo ajoelhou-se e deitou a cabeça sobre o tronco: o corpo continuava contraído e tenso. Pela segunda vez o Cavaleiro Verde levantou e voltou a baixar sua espada sem conseguir realizar o intento: “Meu jovem, esperava um homem corajoso diante de mim!”. Gawaine não sabia o que fazer, tão desesperado estava; lembrou-se então da fita verde, presente da dama e, agarrando-se a ela com fervor, sentiu seu coração tranqüilizar-se. Ajoelhou-se contrito, colocando a cabeça sobre o tronco e, tomado por uma coragem desconhecida, esperou o golpe fatal. O Cavaleiro Verde levantou a espada e desferiu o golpe atingindo a testa de Gawaine, ferindo-o de raspão. Gawaine levantou-se assustado e para sua surpresa percebeu que sua cabeça estava a salvo e que o Cavaleiro Verde e o Senhor do Castelo eram a mesma pessoa! Confuso e envergonhado, não entendendo nada do que acontecera, ouviu com constrangimento: “Como foste corajoso ganhaste a vida!; como mentiste, eu te marquei com a espada, para que carregues a lembrança de tua falta. Vai , estás livre, busca os teus e conta o sucedido”. Gawaine retornou ao Castelo de Camelot e relatou a Arthur e a seus companheiros o ocorrido. Ainda se sentia envergonhado com sua atitude seja porque omitira parte da verdade ou porque tivera medo e sentira sentimentos nunca antes conhecidos. Salvara sua vida, era verdade, e o Cavaleiro Verde afirmou-lhe que fora pela coragem, mas para isso teve que se deparar com seu próprio medo, medo de morrer, com sua mentira e mais que tudo, com sua fraqueza; senti vergonha de si mesmo. O Rei reconfortou-o como um pai e enalteceu sua atitude dizendo-lhe que ser cavaleiro significava também ser esperto; precisou descobrir que tinha medo para saber ser corajoso e, ao conhecer sua fraqueza pode encontrar a fé na providencia divina, rendendo-se a ela. Tão contente ficou Arthur com a façanha do sobrinho que propôs a todos os cavaleiros da Távola Redonda usarem o fitilho verde em suas lanças em memória de Gawaine.