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sábado, 28 de maio de 2011

O último patriarca

JOÃO ALVES GALVÃO 1914-2007

O alemão Bertolt Brecht dizia que existem homens que lutam um dia e são bons. Há outros que lutam um ano e são melhores. Há os que lutam muitos anos e são muito bons. Mas há os que lutam toda a vida e estes são imprescindíveis. Sem exageros, assim foi João Alves Galvão. Homens assim não são esquecidos. A comunidade o lembrará sempre. A própria palavra de Deus pede, através Livro Sagrado: ‘mostra quem são eles e de onde vieram’.

João Alves Galvão nasceu à margem esquerda do rio Curimataú, no Sítio Porteiras, no município de Pedro Velho/RN, no dia 6 de Setembro de 1914. Era filho de Francisco Alves Galvão e Alcina Lopes Galvão. Desde pequeno despontou como um garoto prodígio. A própria professora o entregou ao pai dizendo que não tinha mais nada para ensiná-lo. Na juventude, ajudava ao pai nos trabalhos de agricultor e como comerciante nas feiras livre de Canguaretama, Goianinha e Nova Cruz.

Em 1949 tomou a resolução de morar em Canguaretama, a cidade mais promissora da região. Deixou a casa do pai e desembarcou na Estação da Penha, às 7 horas da manhã, do dia 25 de maio, uma quarta-feira. Na bagagem estavam as mercadorias para iniciar sua vida de comerciante na cidade. Para começar o negócio teve a ajuda destacada de Paulírio Martins de Castro que lhe ensinou algumas técnicas de comércio e Abdias Martins de Castro, amigo que sempre o incentivou.

Sua primeira hospedagem foi na casa de Dondom, prima de seu pai, no Sertãozinho. Estabeleceu-se no centro da cidade, numa loja dentro do mercado. Negociava junto com o irmão e por isso logo ficou conhecido como Dois Irmãos. Sua primeira venda foi a um garoto que lhe comprou cinco confeitos por um tostão (cem réis).

Logo se destacou, comprando a Severino Martins de Castro a loja que tinha sido João Ciro Fagundes, por quatro mil réis. A partir disso não parou mais, até tornar-se o maior comerciante de Canguaretama nos anos 70. Na época foi o primeiro comerciante da cidade a retirar o “balcão” e montar algo parecido com os supermercados de hoje.

Fazia todos os cálculos de cabeça, mas gostava de ter sempre um lápis à mão. Homem que se destacava pela beleza, estava sempre vestido com uma camisa branca e calçado com um sapato preto, sua indumentária diária. Já alicerçado no município, conheceu e casou com a paraibana Lúcia Alves de Araújo em 18 de junho 1955 e com ela ergueu uma família de 11 filhos, todos nascidos e criados em Canguaretama.

Na política sempre esteve ligado a José de Carvalho e Silva, João Gomes de torres e Marcílio Martins de Castro. Sempre ajudando os amigos e parentes. Nas campanhas políticas nunca aceitou ser candidato a cargo eletivo. Homem de muitas amizades, foi o fiador secreto dos amigos, salvando o investimentos de muita gente. Alguns de seus amigos eram adversários políticos, mas sempre amigos pessoais. Todos os grandes políticos do Rio Grande do Norte passaram por sua residência e apertaram sua mão.

Em 1959 comprou a Fazenda São Francisco, em Pedro Velho, em frente ao sítio onde nasceu, passando a ser criador de gado nelore e plantador de coco e cana-de-açúcar, além de explorar a extração de pedras para calçamento, mas nunca quis sair de Canguaretama. Em 2000 a Câmara Municipal de Canguaretama lhe homenageou com o título de cidadão canguaretamense, o qual aceitou com muito orgulho.

Ajudava e visitava os mais humildes sem pretensões ou cobranças. Para a família foi mais que um líder, foi um guia que ensinava como fazer. Atencioso, ágil, governava como um monarca bondoso, inteligente e fiel. Era o conselheiro preciso, um farol que não apagava, dando o sinal de esperança. Tinha solução para tudo. Seu prognóstico era infalível.

Tinha uma vida saudável: não bebia, não fumava, seu esporte era o trabalho, a alimentação regrada. Seu café da manhã era de rei, seu almoço era de príncipe, seu jantar era de mendigo. Na velhice não precisava de ajuda, continuou autônomo até o fim. Foi acometido de acidente vascular cerebral grave no dia 14 de outubro. Ficou hospitalizado, mas sempre consciente, até partir para a Cidade de Deus no dia 26 de outubro, dia da poesia.

Seus pedidos eram simples e todos já sabiam: ser sepultado na terra onde nasceu, ao lado do pai e da mãe; no esquife mais barato que pudesse, para lembrar sua humildade; pediu também que lhe vestissem o terno branco de seu casamento. Tudo foi cumprido à risca. Enfatizando que o destino se encarregou de que o seu sepultamento fosse no dia que ele mais gostava: sábado, o dia de feira. E durante todo esse tempo que ele esteve internado, os céus choraram a sua perda por todos nós.

Deus dentro de casa

O sol ainda não havia cessado de brilhar e a tarde ia engolindo as corres do dia, despejando sobre a terra os primeiros retalhos de sombra. Então eu percebi que Deus vinha sentar-se perto de mim.

Ele ficava numa das cadeiras da mesa da cozinha da minha casa. Sempre chegava sem alarde, retirava o chapéu da cabeça e colocava ao lado; buscava um copo de água e olhava as coisas em silêncio.

Ele tinha as feições de um homem feliz, de um homem realizado. Ficava ali, contido na alegria própria de quem cumpriu suas realizações diárias e se recolhia ao cotidiano do lar.

Eu só olhava e pensava: “como é bom ter Deus dentro de casa!” Como era bom viver aquele momento da vida em que eu tinha direito de ter um deus só para mim. Poderia cair em seus braços, despentear seus cabelos, puxa a caneta de seu bolso...

Mas aquele homem não era Deus, aquele homem era o meu pai. E foi assim que descobri que meu pai, com seu jeito infinito de ser Deus, me revelava Deus com seu jeito infinito de ser homem.

O que falaram os amigos sobre João Alves Galvão


“Homem justo e de Deus.” Pe. Flávio Herculano.

“Me fez muito favor, que Deus faça por ele.” Veloso, Agricultor.

“Era como um pai.” Antonio Raimundo, vaqueiro.

“Bom patrão, boa gente.” Joca, Vaqueiro.

“Era um pai para mim.” João de Alcindo, pedreiro.

“Para mim foi muito importante.” Zaíra, lavadeira.

“Um exemplo para todos nós” Priscila, Vereadora em Pedro Velho.

“Em toda sua vida teve grandeza.” Manoel do Carmo, ex-Deputado.

“amigo e homem honrado” Ney Lopes, ex Deputado.

“Palavra dada, palavra cumprida.” Múcio Martins, ex-Vereador.

“Um homem de lição.” Fátima Moreira, ex-Vereadora.

“O amigo fiel da família Gomes.” Marília, ex-Vereadora.

“Me ensinou muita coisa.” Rosário, ex-Vereadora.

“Um cidadão respeitado na cidade.” Cloves Alencar, vereador.

“Deixa a herança: honestidade e postura.” Marcílio Martins, ex-prefeito.

“O homem que observava!” Guaraci Marinho, ex-Deputado.

“Figura marcante, um formador de opinião.” Socorro Rabelo.

“Viverá para sempre conosco.” Severino Martins, funcionário público.

“Uma das relíquias de Canguaretama.” João Alberto, empresário.

“Criou os filhos para o bem.” Doutor Freitas, Agropecuarista.

“Foi gente boa toda a vida.” José Parente, Agropecuarista.

“Me ajudou quando eu mais precisei.” Gilvan Trigueiro, Comerciante.

“Nada desabonava sua integridade.” Geraldo Heleno, Professor.

“Prudente, experiente, bondoso, fiel...” Maria do Carmo, ex-professora.

“Um ser humano atencioso.” Maria Pessoa, ex-professora.

“Um homem que ensinou respeito e sinceridade.” Yara Gomes.

“Um guerreiro!” Ivonete Sales.

“Um dos grandes homens que conheci.” Aldemir de Souza.

“Era o único cidadão que me elogiava.” Genésio Mangabeira.

“Inteligente, generoso, não abdicou de suas raízes.” Joaquim Louro.

“Trabalho, atenção, dedicação.” João Maria, sobrinho.

“Nunca falava sem pensar.” João, neto.

“Era o mais destacado na família.” Joca, cunhado.

“Conselheiro preocupado com a felicidade da família.” Lúcia, nora.

“Muita convicção sobre o assunto VIDA”. Milene Alves Galvão, nora.

“Pessoa maravilhosa, sempre presente.” Suas sobrinhas.

“Perguntava a todos: e você, como vai?” Aldo Luiz, filho.

“A relíquia dos antigos.” Lindalva, prima.

“Eu lucrei ao viver ao seu lado.” João Galvão, cunhado.

“Sua casa será o museu da família.” Dedé Galvão, primo.

“Do time dos filhos, ele me deu a camisa 10 com seu nome.” João, filho.

“A quem eu vou perguntar as coisas?” Francisco, filho.

Lembranças da calçada e da cozinha

Sempre moramos na rua principal, em frete a praça e a igreja, e a calçada foi algo freqüênte no dia-a-dia da família. Não uma calçada qualquer, mas um espaço social privilegiado, pois na calçada aconteciam as mais agradáveis e expontâneas conversas, deixando os assutos complicados para o reservado da cozinha ou do quarto.

Na calçada, João Alves recebia os amigos e parentes, aconselhava os filhos, abençoava os afilhados, festejava as vitórias... Era ali mesmo que ocorriam os natais, os réveillons, as noites de festas juninas, os acontecimentos cívicos, políticos e religiosos.

A família sempre junta, vendo e participando de comícios, desfiles, procissões, shows, disputas esportivas e tudo o que ocorria no centro da cidade. A Nau Catarineta, as bandas de músicas, os discursos, as caminhadas, os carnavais, os ébrios, os sóbrios, a feira e os feriados.

Quem passeou pelo centro da cidade deve ter ouvido o bom dia, boa tarde e boa noite de João Alves, majestosamente sentado em uma cadeira simples. Pobres e ricos passavam por ali. Uns só queriam uma moeda para ir embora, outros pagariam para não sair. Havia uma palavra de conforto ou a franqueza simples para quem quizesse ouvir.

Maria Antônia Fagundes certa vez disse que era na cozinha de João Alves que o povo de Canguaretama matava a fome. Isso foi um exagero, mas com o mais sincero fundo de verdade. Ela não queria desmerecer ninguém, mas sabia da mesa farta que acolhia qualquer um que entrasse na casa.

Quantos problemas não foram resolvidos naquela mesa, sem contar as barrigas saciadas. Muitas dívidas foram pagas com poucas palavras. As diferenças abrandadas com olhares de generosidade, num acordo sem assinatura nem cartório...

Não era fácil nem difícil, era natural. Aquela mesa era um tribunal de apelação dos desvalidos, uma ouvidoria geral dos mais fracos, a última instância dos desafortunados. Sem um acordo naquela mesa, só restava a incerteza ou um golpe de sorte, pois na casa de João Alves era onde tudo se resolvia.

domingo, 15 de maio de 2011

A descendência do holandês Joris Garstman


Artigo publicado no ”O jornal de hoje” edição de 6 de Outubro de 2009.











Original em http://trindade.blog.digi.com.br/category/educacao/

A descendência do holandês Joris Garstman

João Felipe da Trindade (hipotenusa@digi.com.br)

Professor da UFRN, sócio do IHGRN e do INRG

No dia 3 de outubro de 1645,dia do massacre de Uruaçu, comandava a Fortaleza dos Reis Magos, naquele momento, o holandês Joris Garstman.

No livro “História da Fortaleza da Barra do Rio Grande”, Hélio Galvão escreveu: “Na família Lopes Galvão radicada na área de ocupação flamenga, é corrente a tradição de que certa moça dessa família se casou com o holandês Garstman, de onde se originou o ramo Grasciman Galvão. Nossas investigações nos têm conduzido cada vez mais, em aproximações sucessivas, à convicção de que a tradição familiar vem sendo confirmada pelos documentos até agora revelados.” Diz mais adiante Hélio Galvão: “Sabe-se, por outro lado, que o assassínio do sogro de Garstman foi a razão principal que fez deflagrar a escopeta que matou Jacob Rabe. De fato, entre os mortos de Uruaçu está Lostau Navarro, precisamente aquele que a tradição aponta como o sogro do Major Garstman.”

Deduz Hélio Galvão, por conta da suas exaustivas pesquisas, que Beatriz Lostao Casa Maior, filha de João Lostau de Navarro, se casou com o Tenente Coronel Joris Garstman. Afirma, mais ainda, que eles são os pais de Teodósio de Gracisman e Isabel de Gracisman. Joris Garstman esteve também no governo da Capitania do Ceará e entregou o forte de São Sebastião em 20 de maio de 1654, partindo em 1º de julho para as Antilhas, tendo morrido de morte natural na Martinica, segundo consta do livro acima. O estranho é que não se encontrou nenhum documento, tanto no Brasil como na Holanda, que registre o nome da esposa de Joris Garstman e nem o destino dela. Tampouco se conhece a esposa de João Lostau de Navarro.

De onde surgiu o sobrenome Galvão? Será que não veio da família de Sargento-mor Francisco Lopes que casou com Joana Dorneles, filha de Maria de Lostao Casa Maior, outra filha de João Lostau, que casou com Manoel Rodrigues Pimentel? O sobrenome Lopes Galvão aparece com mais freqüência nos descendentes de Cipriano Lopes Pimentel, filho de Francisco Lopes e Joana Dorneles. Galvão aparece nos filhos de Teodósio de Graciman, acredito que por conta de Paula Barbosa, filha de Francisco Lopes e Joana Dorneles. Há que se juntar ainda muitos documentos para se ter conclusões mais precisas. A tradição muitas vezes obscurece a verdade.

Frei Galvão




Nascido em Guaratinguetá, em 1739, de uma família de muitas posses, descendia dos primeiros povoadores da Capitania e corria em suas veias sangue de bandeirantes. Renunciou a uma brilhante situação no mundo e ingressou na Ordem franciscana. Fundou, em 1774, juntamente com Madre Helena Maria do Espírito , o Recolhimento de Nossa Senhora da Luz, na capital paulista. Não somente formou e conduziu espiritualmente as
religiosas desse mosteiro, mas também o edificou
materialmente, ao longo de 48 anos de esforços contínuos.
Foi o arquiteto, o engenheiro, o mestre de obras e muitas vezes o operário da sua edificação, que somente se tornou possível porque ele incansavelmente pedia, ao povo fiel,
esmolas para a magnífica construção. Sacerdote procurado e estimado por todos, era chamado "Homem da Paz e da Caridade". Entregou sua alma a Deus em 1822. Foi beatificado em 1998. Até hoje sua sepultura, na capela do mosteiro, é visitada por multidões que acorrem a lhe pedir graças e milagres, e também à procura das famosas e prodigiosas "pílulas de Frei Galvão".